Antes de entrar no assunto propriamente dito, não poderia deixar de buscar Gramsci, que estabeleceu a sociedade em intelectuais orgânicos e os intelectuais tradicionais, que vivem num rodízio, ou seja, para alcançar o topo. No sentido gramsciano, intelectual orgânico é todo aquele que cumpre uma função organizadora na sociedade e é elaborado por uma classe que vai de um tecnólogo, passando por um administrador de empresas, chegando a um dirigente sindical ou partidário. Os intelectuais tradicionais podem ser membros das classes dominadas quanto às dominantes, adquirindo uma autonomia em relação aos interesses imediatos das classes sociais. O chamado intelectual orgânico é entendido como aquele que se mistura a massa. Assim, o intelectual é tanto o acadêmico, o jornalista, o padre, o cineasta, o ator, o locutor de rádio, o escritor profissional, quanto o intelectual coletivo, em suma todo homem é um intelectual em potencial.
O conceito de hegemonia no pensamento gramsciano é concebido enquanto direção e domínio, isto é, como conquista, através da persuasão e do consenso, não atuando apenas no âmbito econômico e político da sociedade, mas também sobre o modo de pensar, sobre as orientações e inclusive sobre o modo de conhecer. A hegemonia é a capacidade de unificar através do consenso e de conservar unido um bloco social, não se restringindo ao aspecto político, mas compreendendo um fato cultural, moral, de concepção do mundo.
Fiz todo esse apanhado, para chegar a uma avaliação, mesmo que empírica, do futuro político do Maranhão, onde os dois seguimentos políticos: o sarneysismo e o anti-sarneysismo lutam pelo poder.
O sarneysismo, em minha concepção, vem perdendo a hegemonia e o consenso, gerando, com isso, diversas divisões, com pensamentos diferentes e disputas internas, que poderão dar fim a esse grupo que domina a política maranhense há vários anos. Não se ver mais a figura de um agregador, um conciliador. Pode está chegando o fim de sua era, com isso se transformando em um grupo de intelectuais tradicionais.
O ainti-sarneysismo, por sua vez, é um grupo bem heterogêneo e não possuem agregadores e conciliadores, com isso o consenso não existe. Por isso, ainda não conseguiram chegar ao topo e, assim, se transformarem em intelectuais orgânicos de fato. Tudo leva a crer que ainda não conseguiram enxergar suas deficiências.
A política maranhense não conseguiu gerar uma terceira via que não tenha nenhuma vinculação com os dois grupos que disputam o poder no Estado. Na verdade, o ciclo vicioso maranhense está impregnado na política, cuja decisão é sempre a mesma: ser a favor ou contra o Sarney.
Creio que o sarneysismo é uma força que vai além do ex-presidente da Republica José Sarney, que está enraizada em vários segmentos da sociedade maranhense e está passando por um momento de extrema dificuldade, mas é difícil apostar na sua continuidade ou no seu desaparecimento.
A derrota nas eleições em 2006 não foi propriamente do sarneysismo, mas foram as estratégias dos ex-sarneysistas, que utilizaram de métodos ilícitos para continuar no poder.
Em 2010, a eleição manteve certa hegemonia e consenso, que ajudou muito a governadora Roseana Sarney se reeleger.
Agora, vejo que esse grupo sarneysista se tornou heterogêneo, com guerras internas que poderão levá-lo a seu fim. É certo afirmar que as condições para as eleições de 2014 não são favoráveis, visto que o grupo estará esfacelado e sem condições de disputa.
A coisa não é diferente para o grupo anti-sarneysista, que a cada dia que passa ficar mais e mais heterogêneo, principalmente com as mais diversas linhas de pensamento, principalmente com o ingresso de vários ex-sarneysistas.
Como se ver, a hegemonia será o trunfo para eleições de 2014. Até lá não saberemos quem ficará no topo (intelectuais orgânicos) e os que ficarão como intelectuais tradicionais (na parte de baixo).
Eu não apostaria… Visto que os dois grupos ainda não mostraram qualquer reação, apenas continuam aumentando cada vez mais a heterogeneidade.
Publicado em: Governo
Professor Caio.
Correta sua analise. O anti-sarneysismo por suas múltiplas correntes e notória incompetência, jamais conseguirá hegemonia para alcançar o poder. Tampouco tem humildade para abrir mão de suas posições em busca de um terceira via. O sarneysismo, por outro lado, peca pela soberba de que jamais perderá a hegemonia e, por causa da sua vaidade, não busca formar quadros que lhes assegure a continuidade. Desse modo, sobreviverá a corrente que perceber isso. O sarneyismo tem mais chance enquanto viver Jose Sarney. No momento, já para a eleição municipal, terá que buscar quadros em vias alternativas. Existe, basta que o grupo calce a sandália da humildade e vá atrás. Voce, meu caro Professor Caio, sabe onde está.
Resposta: Milton, esses dois únicos seguimentos estão perdidos e não mostram disposição e nem tampouco sinal de buscar nomes que possam fazer a diferença. Não acredito que os grupos tenham nomes para concorrer com João Castelo, mesmo ele fazendo um péssimo governo.
Caro Professor, este artigo é o verdadeiro cenário político do nosso estado. Parece que a cada instante que José Sarney envelhece seu grupo fica mais frágil e com menos força. Isso porque Sarney que sempre foi o grande concilidor, o mentor intelectual, o verdadeiro líder e o mesmo não tem mais aquela “força”. Por sua vez, a oposição ao grupo Sarney é um grupo desorganizado e desunido que o que predomina é o próprio bem.