Agnelli cuida de tributos e do pescoço

Publicado em   14/mar/2011
por  Caio Hostilio

Por Lauro Jardim
Roger Agnelli desembarca amanhã em Brasília para uma conversa desagradável com o governo. Vai reunir-se com o ministro Edison Lobão para tentar desenrolar uma megapendência de 4 bilhões de reais. Trata-se de uma dívida relativa aos impostos sobre mineração que o governo acha que lhe é devida e a Vale considera uma injustificável sanha governista por tributos.

Por causa da bilionária dívida, a conversa teria relevância em qualquer situação. Ganha, no entanto, um sabor especial por que acontece em plena guerra pela sucessão na Vale.

O novo confronto surge no momento em que Agnelli parecia ter saído das cordas, depois de meses tomando pancadas dadas por uma ala poderosa do governo.

Agnelli foi à luta nos últimos meses. Tratou de embalar um pacote de bondades sob medida para o governo. Prometeu entrar (e reservou alguns bilhões de reais para tanto) no consórcio que constrói Belo Monte para suprir a desistência da Bertin. Uma mãozinha de ouro que nenhum governo esquece – pelo menos é o que a Vale deve pensar. Reforçou seus investimentos no setor de fertilizantes, outra opção estratégica que o governo vê com ótimos olhos. Anunciou novas siderúrgicas, algo que desde Lula o governo cobra de Agnelli.

O atrito dos impostos surge, portanto, para lançá-lo novamente na berlinda. Nunca é demais repetir que o governo não deveria meter sua mão grande na Vale, uma empresa privada e altamente lucrativa. Mas no mundo real, a coisa não funciona assim. A Previ e o BNDES integram o grupo de controle da Vale. E ambos têm delegação do governo para procurar (fazendo o menor burburinho possível) um substituto para Agnelli.

O que o Bradesco e a japonesa Mistsui, também grupo de controle da Vale, pensam dessa articulação? Os japoneses preferem continuar com Agnelli, mas não se oporão a um novo nome se assim os seus sócios decidirem.

O Bradesco – origem, aliás, de Agnelli – não foi protagonista de qualquer movimento pela sua substituição. O que não significa que esteja alheio à discussão. Seu alto comando já conversou diversas vezes sobre o tema com gente do governo. Nunca se chegou a qualquer nome. Vários foram citados. Nenhum foi levado adiante como opção.

Defensores de Agnelli argumentam que o executivo dá ao Bradesco (e a todos os acionistas) lucro, muito lucro. Foram espetaculares 30 bilhões de reais em 2010. Seria esta sua missão principal. Beleza. Não é o bastante, no entanto, nem para o governo e nem para o próprio Bradesco.

Para o Bradesco porque, no final das contas, o melhor executivo para a Vale será sempre aquele que leve a empresa a ótimos resultados (ponto para Agnelli) e não tenha problemas de qualquer espécie com o governo (ponto para os seus adversários). Não é satisfatório para nenhum grande banco qualquer atrito com governos.

Para o governo a alta lucratividade também não é o suficiente porque Dilma Rousseff trabalha com a ideia (assim como Lula trabalhava) de que a Vale é um patrimônio do país e que deve pensar antes no desenvolvimento do Brasil do que na rentabilidade. Disse, por exemplo, Dilma a um interlocutor no ano passado, durante um almoço privado: “Um empresário tem papel no desenvolvimento do país e não pode deixar de investir em algo importante só porque outro negócio é mais lucrativo para ele”.

E então, Agnelli cai ou não cai? Ninguém tem hoje essa resposta. Só o fato de não se tê-la, todavia, dá mostras do estado de tensão que vive o homem que dirige a Vale há dez anos. Amanhã, novamente ele desembarca em Brasília para escrever mais um capítulo de sua luta pela permanência no comando da maior empresa privada brasileira. Numa palavra, Agnelli vai ao Planalto Central cuidar de tributos e do próprio pescoço.

  Publicado em: Governo

Uma comentário para Agnelli cuida de tributos e do pescoço

  1. Marcelo Ricardo disse:

    SERÁ QUE ELE VAI ABATER OS DOIS MILHÕES QUE FOI DOADO PRA CAMPANHA DE LOBÃO?

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