Não poderia iniciar esse texto sem buscar uma fala do educador Cipriano Carlos Luckesi: “Você daria um brevê a um piloto que sabe decolar bem, manter o avião equilibrado no ar, porém não sabe aterrissar? Com certeza não. Então, por que a educação brasileira aprova um aluno que sabe somar e multiplicar, mas não sabe diminuir e dividir?”
Segundo resultados da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização), 57,2% das crianças que concluíram o 3º ano não conquistaram um aprendizado esperadoem matemática. Emrelação à leitura, 56,1% aprenderam o suficiente para, por exemplo, localizar informações explícitasem textos. Aavaliação foi feita no primeiro semestre deste ano com cerca de 6 mil alunos de 250 escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país. Os estudantes tinham em média 8 anos de idade.
Para especialistas, os percentuais devem ser considerados muito abaixo do que se espera de uma educação de qualidade. O certo é que por enquanto o país não tiver 100% das crianças com habilidades básicas em conteúdos fundamentais, não se pode dizer que está havendo ensino/aprendizagem.
Os alunos também foram avaliados na área da escrita, onde 46,6% dos avaliados não apresentaram um desempenho esperado — ou seja, foram incapazes de desenvolver a temática proposta para uma redação.
Os resultados da avaliação apresentaram diferenças entre as regiões do país e entre as escolas públicas e privadas. O Centro-Oeste apresenta o segundo melhor percentual no caso da leitura e da matemática, atrás apenas da Região Sul.
As regiões Norte e Nordeste ficam abaixo da média nacional nos três critérios: leitura, matemática e escrita. Já as escolas públicas apresentam resultados inferiores às particulares em todas as regiões. No caso da matemática, por exemplo, a rede de ensino pública não atingiu pontuação satisfatória em nenhuma região. Ou seja, os alunos não demonstraram domínio da adição e subtração, e não conseguiram resolver problemas envolvendo notas e moedas.
De acordo com a secretária de educação básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, é preciso ter uma “paciência histórica”. “Temos que fazer o que não foi feito nos séculos 19 e 20: colocar todas as crianças na escola, garantir o aprendizado e fazer com que os pais e as mães voltem para a escola. O Brasil se acostumou com a desigualdade de oportunidade durante muito tempo”, disse. Para a secretária, a diferença entre os resultados conquistados em leitura e matemática deve-se a uma ferramenta de avaliação interna, a Provinha Brasil, que, desde 2008, atesta a qualidade da alfabetização e do letramento inicial oferecidos às crianças do 2º ano. “A provinha é aplicada em março e depoisem novembro. Assim, a professora pode comparar a trajetória dos alunos”, explica.
Em minha opinião, o resultado é a falta de responsabilidade com o ensino infantil, cuja alfabetização faz parte. Um aluno mal alfabetizado levará consigo todas as suas deficiências até chegar ao ensino superior. Exemplos clássicos como a troca de “d” por “t”, “f” por “v” e assim sucessivamente.
Só haverá mudanças de fato quando o MEC se conscientizar que tudo começa no ensino infantil e não no fundamental…
Publicado em: Governo