Beija Flor e Vila Isabel se destacam no primeiro dia de desfiles na Sapucaí

Publicado em   20/fev/2012
por  Caio Hostilio

Jornal do Brasil

Das sete agremiações que abrilhantaram a noite e o amanhecer dos foliões na Marquês de Sapucaí, a Beija Flor de Nilópolis (que já acumula 12 títulos) e a Vila Isabel se destacaram e mostraram que estão na luta pelo título. 

<:taghw><:taghw>Depois de a Beija Flor de Nilópolis fazer uma homenagem emocionante aos 400 anos da cidade de São Luís do Maranhão, no Nordeste, foi a vez da Vila Isabel, de Martinho da Vila, mostrar a que veio e sacudir ainda mais os foliões enquanto o sol nascia, por volta das 6h.

A Unidos de Vila Isabel entrou na Sapucaí para homenagear o ritmo do ‘semba’, que influenciou a origem do samba brasileiro. Com o enredo Você semba lá … Que eu sambo cá!<:taghw> O canto livre de Angola a última escola a desfilar destacou as raízes religiosas, as paisagens e a cultura africana.

O samba enredo defendido pela escola foi composto por Arlindo Cruz, além de outros músicos, a partir da concepção de Martinho da Vila, que é integrante da escola e membro da comissão de compositores da Vila Isabel desde 1963. O sambista também foi homenageado pela escola durante a passagem pela Sapucaí.

Logo na chegada na passarela do samba, a escola encantou o público com a elaborada comissão de frente. A ala representou uma savana africana, onde os dançarinos faziam coreografias encenando o movimento dos animais entre um gramado seco. A comissão também contou com uma alegoria que, além da grama, apresentava uma árvore típica da região e que se transformava ao longo do desfile em um rinoceronte.

As paisagens naturais africanas foram apresentadas logo no início do desfile, no carro abre-alas. A alegoria “A Fauna Selvagem Angola” também mostrou animais africanos, como zebras, flamingos, leopardos, girafas e crocodilos. O carro foi precedido do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira que exaltou a África livre, mostrando ao público que o desfile iria focar na beleza do continente.

As alas também ressaltaram a exuberância das espécies animais de Angola, além da relação dos habitantes do país com a natureza. O tema foi destaque na segunda alegoria, que mostrou uma grande árvore chamada Imbodeiro, ornamentada com diferentes estampas e texturas de tecidos representando as peles animais da África. Outra alegoria, “No Reino da Rainha Njinga”, destaca a história da rainha e sua relação com as etnias que compõem o povo angolano.

A saída dos povos angolanos para o Brasil foi lembrada com uma alegoria que retratava os navios negreiros. A ala das baianas, com fantasias brancas com detalhes em tecidos de diferentes estampas africanas, lembrou o sentimento de saudade que os escravos sentiam de sua terra natal, chamado de banzo. As demais alas mostraram a resistência cultural dos negros no País, e a miscigenação que formou a população brasileira e sua cultura, com a tradição das festas e cultos religiosos. A alegoria “A Festa do Divino” destacou essa herança cultural.

Renascer de Jacarepaguá estreia na elite e abre os trabalhos no novo Sambódromo 

A estreia da Renascer de Jacarepaguá no Grupo Especial encheu de esperança os componentes da escola. Campeã do Grupo de acesso em 2011, tendo a água como tema, a agremiação homenageou o pintor pernambucano Romero Britto, com o enredo ‘O artista da alegria dá o tom da folia’, do carnavalesco Edson Pereira. 

O primeiro toque do surdo marcou também a inauguração da Sapucaí, que passou por reformas e melhorias ao longo dos últimos 12 meses.

O nervosismo da primeira vez era visível na concentração. A rainha de bateria da vermelho, branco e amarelo, a publicitária Patrícia Neri, traduziu em palavras o sentimento de todos os integrantes da ‘Pomba’, símbolo da representante da Freguesia e do Tanque.“Esse ano a Renascer veio para escrever seu nome na história do Grupo Especial”, vislumbra. “Chegamos na elite, e com todo o suor e esforço vamos ficar em cima por muito tempo. Todo mundo merece isso na escola”.

Já tendo desfilado por Mangueira e Vila Isabel, a empresária Maria Fernanda Casttine, de 42 anos, que saiu na ala ‘Egito Arte’ da Renascer de Jacarepaguá, de cor predominantemente azul, que era seguida por uma pirâmide, acredita, inclusive, no título da escola.“Tudo foi pensado, nos mínimos detalhes, para estrearmos com um campeonato, o que seria sensacional”, avaliou. “Já em nossos ensaios, era possível ver que todos batalham por isso. Espero muito que isso aconteça”.

Portela levanta a arquibancada com homenagem à Bahia

A Portela balançou as arquibancadas do sambódromo na noite deste domingo (19). O desfile sobre a fé e as festas populares da Bahia contagiou o público e transformou a Sapucaí em uma grande festa popular baiana. Segunda escola a se apresentar, o desfile da Portela teve um gosto especial para os integrantes, que vibravam com a beleza e o sucesso do samba. Além de estar em jejum de vitórias há mais de 20 anos, a escola sofreu com o incêndio que prejudicou seu desfile 2011. Para trazer sorte, a escola cantou a fé da Bahia com o enredo E o Povo na Rua Cantando. E feito uma Reza, um Ritual.

Escola de Madureira apostou nas cores para tentar um título que não vem há duas décadas. Fotos: Vítor Silva/Jornal do Brasil

A comissão de frente “Quero Vestir A Roupa da Santidade” mostrou os orixás do candomblé, evocados por filhos e mães de santo. Entre eles, o ator Milton Gonçalves representou um babalorixá. A comissão trouxe um tripé representando as igrejas barrocas baianas, de onde saíam os orixás fantasiados. A ideia do carnavalesco era mostrar o sincretismo religioso da Bahia.

O carro abre-alas trouxe, além de uma grande águia dourada segurando um patuá, os cantores Paulinho da Viola e Marisa Monte como destaque. A cantora simbolizava Clara Nunes, sambista que foi integrante da escola e que conduz o enredo da escola. Logo em seguida, a ala “Olhai seus filhos com olhar sereno” apresentou uma coreografia com as vassouras utilizadas nas lavagens da Igreja do Bonfim, retratada no segundo módulo do carro alegórico.

A alegoria contou com 50 mil fitinhas do Senhor do Bonfim amarradas nas laterais do carro. Segundo o carnavalesco Paulo Menezes, elas foram benzidas pelo padre da igreja e por mães de santo de Salvador. Além das fitinhas, diversas baianas compunham a alegoria. A ala “Alma em Festa da Nossa Cidade” mostrou a fé pelo santo, que é o mais querido dos baianos.Da Lavagem do Senhor do Bonfim, a Portela partiu para a Festa de Iemanjá, outra celebração religiosa típica da Bahia. As alas mostraram os presentes oferecidos pelos fiéis à orixá conhecida como rainha do mar. De azul e verde claro, a ala das baianas “Minha Sereia É a Rainha do Mar” também reverenciou Iemanjá, que foi destacada na segunda alegoria, “Como Saúda a Rainha do Mar”.As influências africanas da Bahia foram lembradas nas alas, com referências à cultura negra e ao Ilê Ayê, o primeiro bloco composto por negros de Salvador. A terceira alegoria, “Abram Espaço Nesta Sagrada Caminhada”, destacou a religião como maior herança do continente herança. O carro contou com integrantes do Balé Folclórico da Bahia, que faziam performances e danças afro.

Logo em seguida, a bateria vestida de Filhos de Gandhy cobriu de branco a passarela. O carnavalesco optou por incluir uma ala atrás da bateria com a mesma fantasia, para dar a dimensão que o bloco Filhos de Gandhy tem no Carnaval de Salvador. Além disso, a bateria se destacou pelos atabaques utilizados para dar um toque da percussão baiana ao samba portelense.A ala “Tá No Batuque Que Balança Nego” lembrou o balanço da música baiana e foi a ala mais colorida da Portela, destacando as cores amarelo, azul, vermelho e amarelo. “Abre alas Porque o Olodum Chegou” foi outra a ala que destacou a percussão baiana do grupo conhecido internacionalmente.

A quarta alegoria, “O Canto da Cidade”, reproduziu os casarões, ladeiras, largos e escadarias do Pelourinho e teve Daniela Mercury como destaque. A cantora precisou alterar as datas de sua apresentação no Carnaval de Salvador para estar presente no desfile. Além dela, o carro também lembrou a banda Timbalada, dispondo os integrantes em uma grande escadaria com as roupas do grupo. Tambores do Olodum compõem as laterais da alegoria.Nas alas, a Portela lembrou outras manifestações culturais baianas, como o Zambiapunga, e a Festa de Santo Amaro da Purificação, que acontece no Recôncavo baiano. A alegoria de apoio “A Casa é Sua Dois Dois”, com bonecos e carrinhos como decoração, lembrou a festa de Cosme e Damião, santos gêmeos festejados no estado. Os atores Fábio Lago e Fabrício Boliveira representaram os santos.As festas juninas foram o tema da quinta alegoria, “E Hoje é o Aniversário de São João”, que apresentou um grande boneco lembrando Gilberto Gil com uma sanfona. Nas bordas do carro, alguns casais dançavam forró. Em seguida, a ala “Toda Festa de Um Povo” lembrou o espírito de festa do povo baiano.

Para fechar o desfile, a Portela lembrou nas alas outros sambas enredo em que celebrou festas populares brasileiras. O último carro alegórico trouxe imagens dos orixás baianos nas laterais, saudando a Velha Guarda da Portela. Além dos sambistas, o carro também trouxe a cantora Vanessa da Matta representando Clara Nunes.

Com problemas, Imperatriz homenageou Jorge Amado

Com problemas no início do desfile, a Imperatriz Leopoldina chegou à Sapucaí para homenagear o centenário de Jorge Amado. Terceira escola a desfilar na noite deste domingo (19), a Imperatriz mostrou as principais obras do escritor e exaltou a Bahia folclórica e seus personagens exóticos.

A escola contornou os problemas na entrada do sambódromo, quando um dos carros teve dificuldades para contornar o acesso à Sapucaí. A alegoria reproduzia a Lavagem do Bonfim, em Salvador, com mães de santo fazendo o ritual religioso.

A comissão de frente foi inspirada no livro Capitães de Areia , com um carrossel onde os dançarinos encenavam os personagens principais da obra sobre garotos de rua que praticavam pequenos furtos em Salvador nos anos 20.

Porto da Pedra leva leite e iogurte para a Sapucaí, mas não “dá samba” e derrapa

Folião não escolhe enredo, já dizem os mais entendidos de Carnaval. O que se viu na Marquês de Sapucaí no amanhecer desta segunda-feira de Carnaval foi a tentativa imensurável do povo gonçalense de levantar a apresentação da Vermelho e Branca de São Gonçalo diante de um enredo que pareceu difícil (ou impossível?) de ser desenvolvido. O episódio reacendeu o debate em torno da polêmica das escolas que aceitam ou não que o patrocinador dite o tema a ser desenvolvido pela agremiação.

Parecia a Acadêmicos de Vila Isabel no ano passado, quando o assunto a ser desenvolvido foi fixado pela empresa de cosméticos Pantene como sendo “cabelo”. Conclusão: sobrou dinheiro e luxo, mas faltou Carnaval de verdade e empolgação do público. A tradicional escola passou despercebida pela Passarela do Samba.

Como é de costume da Porto da Pedra, o investimento em efeitos sensitivos não deixou de acontecer este ano e ficou por conta da alegoria ’A Folia dos Derivados’, que além de trazer queijos e ovelhas tinha forte cheiro de leite. Os destaques do desfile foram a comissão de frente, que representou lactobacilos. Os bailarinos representaram a transformação do leite em iogurte e trocaram uma roupa branca por outra cor-de-rosa rosa. O efeito foi simples, mas funcionou.

Com riqueza de detalhes, Mocidade se destaca como uma das preferidas na 1ª noite

O orçamento apertado da Mocidade Independente de Padre Miguel não intimidou o carnavalesco Alexandre Louzada e sua equipe. Diferentemente de carnavais anteriores da escola, a agremiação Verde e Branca da Zona Oeste já se destaca na primeira noite de desfile na Marquês de Sapucaí como uma das favoritas da noite. O brilho da agremiação não esteve apenas na plasticidade das alegorias e adereços, cuja ordem foi iniciada com o branco (como quando um artista começa uma obra, com a tela branca) e passando por alguns traços mais escuros e culminando no colorido de algumas obras de Cândido Portinari – um dos maiores pintores brasileiros.

Não bastasse arrastar os familiares do pintor brasileiro reconhecido internacionalmente, Louzada conseguiu através de seu trabalho retratar todas as fases do trabalho do artista: o Portinari internacional (com a criação dos painéis Guerra e Paz), seu retorno ao Brasil com o retrato dos brasileiros de várias regiões (destaque para o carro Os Retirantes) e sua arte em azulejaria. “Não bastava retratar Portinari, tivemos que construir um desfile que lembrasse o seu trabalho”, destacou o carnavalesco, que foi afastado da Beija Flor de Nilópolis no ano passado, depois de um desentendimento com Parecia um Carnaval antigo, de pelo menos 20 anos atrás. Foi emocionante. Mas teria sido perfeito se não fosse um “buraco” feito nas alas iniciais e o corre-corre final, que fez a escola estourar um segundo.

  Publicado em: Governo

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