Grande Mestre André, da minha querida Mocidade e sua invenção da parada da bateria e a volta gloriosa com o repique, isso nos anos 80. O povo não acreditava que aquilo era possível, mas ele foi audaz e levou para a avenida. De lá pra cá isso passou a ser a alma da bateria e as inovações foram crescendo. Agora, A verde e Rosa deu um show… Parar por 3 minutos e deixar o público presente cantar o samba sem o acompanhamento da bateria foi algo fantástico…
A Estação Primeira de Mangueira entrou na Sapucaí na madrugada desta terça-feira (21) para marcar o Carnaval carioca. A escola fez grandes paradas da bateria, trouxe convidados para puxar o samba-enredo e fez o público delirar com sua celebração ao Carnaval de rua carioca. Com o enredo Vou festejar! Sou Cacique, sou Mangueira, a escola saudou o Cacique de Ramos e fez o público cantar do começo ao fim.
Para homenagear o bloco em grande estilo, a Mangueira fez grandes inovações no seu desfile, sobretudo na bateria. Por cerca de dois minutos, os ritmistas pararam de tocar para ouvir o público cantar seu samba. A escola parou na avenida e vibrou com o público durante a paradinha. No meio da bateria, Dudu Nobre, Alcione e o grupo Fundo de Quintal fizeram uma roda de samba, cantaram o enredo e fizeram o público delirar com a passagem no sambódromo.
Antes de entrar no recuo, a bateria ainda inovou novamente. Os ritmistas abriram espaço para a passagem do casal de mestre-sala e porta-bandeira. Atrás do casal, o tripé que trazia a roda de samba também atravessou os músicos, que faziam coreografias em reverência aos cantores. Durante a performance, a bateria parou de tocar novamente e o samba foi tocado em ritmo de pagode, sacudindo mais uma vez o público.
Apesar de levantar o público, o desfile grandioso da Mangueira também teve problemas. Pelo tamanho de suas alas, 50 no total, a escola precisou acelerar o passo para cumprir o tempo estabelecido para o desfile. Algumas alegorias também tiveram problemas na passagem pela avenida, como um princípio de incêndio no carro abre-alas. O carro de som também apresentou falhas.
Mas a escola conseguiu superar os problemas e encantou o público com as novidades. As surpresas do desfile começaram na comissão de frente. No centro de uma roda de candomblé, os sambistas Beth Carvalho e Jorge Aragão acompanhavam a evolução dos dançarinos. Representando os orixás, os integrantes dançavam numa plataforma que lembrava o terreiro onde o bloco Cacique de Ramos foi criado, com uma grande árvore ao fundo. Durante o desfile, os orixás desciam da plataforma para interagir com o público, emitindo sons.
O abre-alas, que chegou a ter um princípio de incêndio na concentração, desfilou normalmente. A alegoria trazia um grande surdo sendo tocado por um índio, símbolo do bloco. Em cima do instrumento, um passista fazia acrobacias com o pandeiro. Ao fundo do carro, a escola construiu uma réplica do Palácio do Samba, que será a nova sede da agremiação.
Com “bububu no bobobó”, São Clemente conquista a Sapucaí e inova na bateria
Comemorando 50 anos de criação, a São Clemente abriu com chave de ouro o segundo dia de desfile na Marquês de Sapucaí. Com direito a violino na bateria, que (surpreendentemente) não teve paradinha alguma, e funcionou muito bem; o “bububu no bobó” foi o trecho do enredo responsável por transformá-lo num chiclete que dominou as arquibancadas e trouxe a energia que a escola precisava para fazer a excelente apresentação que fez.
O objetivo inicial do carnavalesco-revelação Fábio Ricardo (ex-aderecista e assistente de Joãosinho Trinta e Max Lopes), que era transformar a Marquês de Sapucaí numa Broadway brasileira foi alcançado e, dificilmente, a escola não vai conseguir se manter entre o seleto Grupo Especial.
União da Ilha surpreende com viagem de Londres ao Rio
Com elegância e pontualidade, a escola União da Ilha lembrou a cultura e a história britânica em seu desfile na noite desta segunda-feira (20). A escola misturou a realeza britânica à alegria carioca para mostrar uma viagem de Londres, onde acontece a Olímpiada deste ano, para o Rio de Janeiro, onde a competição acontece em 2016. O enredo De Londres ao Rio: Era uma vez… uma Ilha surpreendeu o público com um desfile bem trabalhado pela escola.
A União da Ilha foi uma das escolas mais prejudicadas com o incêndio no barracão da Cidade do Samba, em 2011, e por isso o desfile não foi julgado. Para retomar sua trajetória no Carnaval carioca, a escola mostrou com brilho alguns personagens, histórias e pontos emblemáticos da cidade de Londres. A União brincou com as semelhanças entre a ilha britânica e a Ilha do Governador, local onde a escola foi fundada, que têm as mesmas cores e padroeiro, São Jorge.
<:figure>Na comissão de frente, a brincadeira não poderia ser mais explícita. A ala representou um tradicional cortejo real, com a rainha inglesa em uma carruagem. Ao seu lado, o gari Renato Sorriso representava o Carnaval carioca. Além da carruagem, a comissão também contou com um tripé reproduzindo os portões do palácio de Buckingham, residência oficial da realeza britânica.
Os guardas britânicos, conhecidos por sua impavidez, também foram representados na primeira ala da escola. Ao longo do desfile, eles deixaram de lado a seriedade característica para cair no samba. Outras alas mostraram a história da formação da cidade de Londres, desde a época medieval até os dias atuais. O abre-alas mostrou cinco grandes cabeças celtas prateadas, representando a origem da cidade.
Os personagens históricos e as lendas que surgiram das guerras de formação da Inglaterra foram representadas nas alas, como “Cavaleiros Medievais” e “Robin Hood”. A segunda alegoria mostrou a lenda dos cavaleiros da Távola Redonda, com esculturas representando os cavaleiros e soldados em um grande tabuleiro de xadrez. São Jorge, padroeiro da cidade e da escola, foi destacado no carro alegórico.
As cruzadas marítimas também tiveram destaque no desfile da União da Ilha, que trouxe uma grande caravela dourada na sua terceira alegoria. Duas esculturas de Netuno, Deus grego dos mares, estavam na frente do carro. A colonização africana foi representada em seguida, em alas que mostraram a chegada dos ingleses no continente.
Alguns aspectos da cultura inglesa foram destacadas pelas alas, como o chá, o detetive Sherlock Holmes e os personagens do livro Alice no País das Maravilhas, tendo a atriz Letícia Spiller como Alice. A quinta alegoria da escola representou o “Chá de Alice”. Com apenas dois passistas, representando o rato e a lagarta, o carro contou com riqueza de detalhes e cores vivas na representação da história do inglês Lewis Carroll.
Temas pop também foram mostrados na escola, como Charles Chaplin, os famosos taxis londrinos, os personagens do livro Harry Potter e o quarteto dos Beatles, lembrados na ala “Yellow Submarine”. Uma alegoria sintetizou os elementos, com um grande carrossel e esculturas da guarda real, cabines telefônicas e ônibus londrinos. À frente do carro, a velha guarda da escola foi homenageada como a “Realeza do Samba”.
O futebol, criação inglesa, foi retratado com humor na ala que representou uma partida entre Brasil e Inglaterra. O jogo foi o pretexto para trazer o Brasil ao desfile da escola. Diversas alas mostraram aspectos da cultura brasileira, como as baianas que representaram as Mães de Santo. A Olimpíada foi lembrada em uma ala que trouxe os foliões nas cores dos arcos olímpicos. Ao longo do desfile, eles se uniram em círculos e formaram o símbolo dos jogos.
Atletas desfilaram pela escola, lembrando a preparação para os Jogos Olímpicos, assim como a última alegoria, “Uma Cidade Ainda Mais Maravilhosa”. No centro do carro, um grande painel de Led representou a Tocha Olímpica, que seria acesa na passarela, mas permaneceu apagada até o final, na dispersão, tirando um pouco do brilho do encerramento do desfile.
Salgueiro lembra centenário de Luiz Gonzaga em literatura de cordel
A Acadêmicos do Salgueiro entrou na avenida com muito gibão, couro e empolgação. A escola homenageou a literatura de cordel com o enredo Cordel Branco e Encarnado. Terceira escola a desfilar nesta segunda-feira (20), o Salgueiro teve dificuldades para entrar na avenida com suas alegorias, mas a preocupação deu lugar a alegria durante o desfile que contagiou o público.
<:figure>Em função das dimensões, três carros tiveram problemas logo na entrada da Sapucaí. O abre-alas teve um princípio de incêndio na dispersão, e o último carro alegórico entrou apagado na Sapucaí, com problemas no gerador. Além disso, outros carros tinham peças removíveis que foram colocadas com as alegorias já na avenida, o que causou um grande espaço vazio entre as alas iniciais.
O desfile apresentado na avenida mostrou a história e as influências sobre a literatura de cordel, elemento típico da cultura sertaneja. A comissão de frente apresentou uma carroça de artistas mambembes, com os dançarinos vestidos de cangaceiros. Ao longo da Sapucaí, a carroça dá lugar um dragão, que é derrotado pelos dançarinos. A história remete à origem da literatura de cordel, na Europa medieval.
As alas iniciais mostraram o surgimento da técnica do cordel, e o abre-alas “O Reino do Cordel” mostrou sua utilização na realidade sertaneja. Foram 26 esculturas de bonecos coloridos, misturando a origem medieval com a tradição nordestina da literatura. As lendas retratadas nas histórias de cordel foram mostradas na segunda alegoria, “A Barca da Encantaria”. O carro mostrou grandes serpentes roxas, dragões e sereias por toda lateral.
Algumas lendas folclóricas e personagens característicos do sertão foram retratadas nas alas. As baianas do Salgueiro estavam fantasiadas de Maria Bonita, a esposa do cangaceiro Lampião. As roupas, com saias mais curtas que o habitual, estavam trabalhadas em laranja, vermelho e marrom. A bateria desfilou de cangaceiros, e fez diversas paradas durante a execução do samba enredo. Em alguns momentos, os ritmistas deixaram de lado os tamborins e tocaram xote, levantando o público.
Uma das alegorias que apresentou problemas no início do desfile, “Pavão Misterioso” chamou atenção na avenida. O carro retratava um dos mais populares cordéis do País com bicicletas presas nas laterias pedaladas por passistas. As alas trabalharam temas recorrentes do cordel, como os perigos do sertão, as aflições do povo nordestino e a morte. A velha guarda da escola desfilou como os coronéis do Nordeste.
A alegoria “Imagens Poéticas do Sertão”, com fortes cores laranja e chão batido de terra, mostrou cenas do cotidiano sertanejo. À frente do carro, uma escultura de cavaleiro do cangaço foi destaque no carro que retratou histórias de Lampião. Nas laterais, passistas com espingardas dançavam ao lado de esculturas de bois e carcaças.
No encerramento do desfile, o Salgueiro homenageou os maiores poetas e autores de cordel, com alas que destacaram suas obras. O último carro alegórico, que conseguiu resolver seus problemas de iluminação, apresentou um grande teatro iluminado, com esculturas de trios nordestinos tocando instrumentos típicos de forró. A alegoria, muito iluminada e com diversos destaques, tinha ao fundo uma estrutura que lembrava o sol.
Unidos da Tijuca celebra centenário do “rei do sertão” Luiz Gonzaga
Penúltima escola a desfilar na Marquês de Sapucaí nesta segunda-feira (21), a Unidos da Tijuca entrou na avenida com o enredo “O dia em que a realeza desembarcou na avenida para coroar o rei Luiz do Sertão”. Título grande para representar a grandeza da obra do cantor e compositor Luiz Gonzaga. Segundo o diretor de carnaval Ricardo Fernandes, a agremiação levou “tudo que o Gonzaga cantou em suas músicas. Desde seus sentimentos mais íntimos até a beleza de seu Estado, o Recife.
A expectativa de Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca, é das mais positivas. Ele garante que a escola trabalhou para levar o título este ano, com um desfile sem patrocinadores que custou mais de R$10 milhões. “Será uma leitura muito fácil da obra de Luiz Gonzaga. Até uma criança vai conseguir identificar sua influência no desfile”, garantiu.
Horta explicou que a escolha do tema de 2012 foi discutida entre todos da escla, mas a ideia inicial foi dele, que é grande fã da obra do cantor que completaria cem anos em 2012, caso fosse vivo.
Sobre o tema mais conservador, diferente do que o carnavalesco Paulo Ramos está acostumado, Horta conta que a decisão não foi imposta ao carnvalesco e que esta será uma oportunidade dele “mostrar sua versatilidade em um enredo mais clássico”.
Desfilando pela primeira vez pela Unidos da Tijuca, a modelo Gracyanne Barbosa, rainha de bateria, disse não estar nervosa, apenas ansiosa para entrar na avenida. Acompanhada de perto por seu marido, o cantor Belo, a bela afirmou que preparou muito o corpo para o carnaval e que quer conquistar o público da agremiação.
Grande Rio encerra desfiles com histórias de superação
A Grande Rio encerrou os desfiles do Carnaval carioca na madrugada desta terça-feira (21) mostrando histórias de superação após ter sido prejudicada com o incêndio que destruiu as alegorias e fantasias do seu desfile de 2011. A escola desfilou com um time de celebridades para apresentar o enredo Eu Acreditoem Você. E Você?.
Histórias de superação de personalidades foram lembradas pela escola, que homenageou o atleta Lars Grael, o maestro João Carlos Martins, o lutador Minotauro, entre outros personagens. Além deles, muitos artistas participaram do desfile, como a atriz Ana Furtado, que estrou neste ano como rainha de bateria. Suzana Vieira também desfilou à frente do carro abre-alas, como Deusa da Vitória.
A comissão de frente mostrou a superação do medo na infância. Os dançarinos, fantasiados de crianças, fizeram coreografias em uma grande cama, que atingia sete metros de altura. Já o abre-alas mostrou uma revoada de anjos, simbolizando a superação pela fé. A alegoria trazia grandes esculturas de anjos e um carrossel em forma de coroa onde os integrantes voavam sobre a passarela. As atrizes Arlete Salles, Cristiane Thorloni e Vera Gimenez foram destaques da alegoria.
A ala “O Sopro do Espírito Santo” trouxe as baianas da escola vestidas de branco e simbolizando a fé. Outras alas lembraram lendas e contos de superação, como “Superando o Preconceito: O Patinho Feio”, que teve à frente a apresentadora Ana Hickmann vestida de “Cisne Negro”.
Em seguida, foram homenageadas diferentes personalidades com exemplos de superação, como a ginasta Georgette Vidor, o atleta Lars Grael, o músico Bethoven e o maestro João Carlos Martins, que desfilou na bateria da Grande Rio. As alegorias destacaram algumas das histórias, como a do lutador Minotauro. Ele foi destaque do segundo carro alegórico, “Derrubando Gigantes”, que mostrou a vitória de grandes obstáculos, como os vícios.
A superação de limites físicos foi lembrada na alegoria sobre o músico Ray Charles, que era cego. O carro alegórico mostrou um grande piano, tocado por um ator que representava o pianista. Outra alegoria destacou a superação através do esporte, com a equipe de basquete paraolímpica jogando em uma enorme quadra sobre o carro. Como destaques, a ginasta Georgette Vidor e o nadador Clodoaldo Silva.
Nas demais alas, histórias de superação de alguns povos da humanidade, como os judeus e os japoneses, que conseguiram vencer grandes adversidades como o holocausto e a bomba atômica. O fim do apartheid da África do Sul foi lembrada na quinta alegoria da escola, que homenageou Nelson Mandela. A alegoria trouxe um grande chafariz no centro, além de imagens de guerreiros africanos.
A velha guarda da escola desfilou homenageando o ex-presidente Lula e a atual presidente Dilma Roussef, pelas suas histórias pessoais de superação. As alas mostraram ainda o projeto Afroreggae, para lembrar a vitória sobre as adversidades sociais. Um tripé homenageou mães brasileiras, com Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, como destaque.
No encerramento, a escola destacou o povo brasileiro e sua garra e persistência. A alegoria trouxe um ônibus onde estavam os funcionários que trabalhavam no barracão da Grande Rio antes do incêndio de 2011. A alegoria tinha também uma grande estátua representou Joãosinho Trinta, fantasiado de gari para lembrar o enredo “Ratos e Urubus”, de 1989.
Publicado em: Governo