A topografia das nuvens

Publicado em   07/mar/2013
por  Caio Hostilio

Mauro, seu texto é fantástico e ele só vem reforçar o que venho dizendo a respeito do domínio das terras por imigrantes, enquanto os nativos se preocupam com as politicalhas. E o mais importante, dito foi que a luta em 2014 será travada por quem tiver os melhores projetos: “É necessária a acidez dos debates, desde que se façam em torno de idéias e projetos. Mas é conveniente não descer ao chão do insulto, e não cair no expediente abjeto das insinuações caluniosas e infamantes.”      

JB

Mauro Santayana

revelacaoÉ conhecido o recurso à meteorologia a fim de determinar a imprevisibilidade dos fatos a vir: a política é como a nuvem, que a cada momento muda de forma e de volume. Atribuída a muitos políticos mineiros, é quase certo que ela tenha sido criada por Raul Soares de Moura, que governou Minas de 1922 a 1924, e morreu no cargo aos 47 anos. Ao empregá-la, em carta a um contemporâneo, Raul Soares teria sido prudente: os compromissos políticos devem estar subordinados ao imponderável — ou, como dizia Nelson Rodrigues, a propósito de futebol, ao “Sobrenatural da Silva”. Enfim, os acordos são válidos enquanto as condições se mantiverem as mesmas.

Fossem realizadas as eleições ainda este ano, e a presidente da República seria imbatível. Além da força natural de quem ocupa o cargo, para perder uma reeleição é preciso cometer muitos erros, ou ser amaldiçoado por circunstâncias indomáveis. A imensa maioria do povo — nele incluídos empresários, que se tornaram ainda mais ricos neste ano passado — está satisfeita. Barriga llena, corazón contento, dizem os espanhóis, e dizemos nós. A barriga satisfeita dos pobres, e o crescimento absurdo dos ativos dos milionários.

A propósito, como o mundo é a cada dia mais globalizado, a fortuna dos 1.426 bilionários cresceu, no último ano, de 4,6 trilhões para 5,4 trilhões, ou seja, eles ganharam 800 bilhões. A informação é da revista Forbes. Ganharam eles, e perderam os pobres. A Europa tenta livrar-se do garrote vil da chamada troica, que deseja salvar os banqueiros com o desemprego e a fome, como as crescentes manifestações demonstram — a última em Portugal, com mais de um milhão e meio de pessoas nas ruas.

Nos 18 meses de campanha, a atmosfera deverá alterar-se, isso se não houver um asteroide vagabundo que nos queira fazer incerta e indesejada visita. Deverá alterar-se, aqui e alhures. O mundo não nos promete o melhor. O melhor, como nos disse a Forbes, é destinado a apenas mil e quinhentos bem-aventurados.

O governo, é o que dizem os bem informados, está sendo acossado por alguns dos maiores homens de negócios brasileiros, que querem ainda mais do que aquilo que ganham.  Em razão disso, não querem investir, e só o fazem usando dinheiro público, via BNDES. Isso explicaria o tour de autoridades brasileiras pelo  mundo em busca de investidores. Mas esse giro encerra outros perigos.

Se aceitarmos como modelo os dois países mais desenvolvidos do mundo, a China e os Estados Unidos, é urgente proteger o nosso povo e o nosso espaço geográfico contra a invasão estrangeira. Vocês conhecem algum brasileiro que esteja comprando jazidas minerais ou adquirindo glebas para a produção de cereais na China? Ou que, ali ou nos Estados Unidos,  faça parcerias com capital majoritário — tendo o Estado como sócio mais fraco?   E, mais ainda, que receba financiamento do Estado chinês para ali investir?

Enfim, as nuvens se reúnem e se dispersam de acordo com os altos ventos. Há  certa agitação dos meios políticos, e em torno de partidos e coligações, nestas semanas. As conversações se iniciam, e nelas há áspera disputa entre as emoções e a razão. Os homens são feitos de suas ideias, mas, também, de seus sentimentos e ambições. Nesse momento inicial, falam mais os ressentimentos, fundados ou não, e, em consequência, o apelo das glândulas à resposta apressada por esse ou aquele líder político.

Mas, como política é conversa e a delimitação dos  espaços de poder, há algumas léguas a serem percorridas nos próximos 18 meses. Será o tempo para que se discutam ideias, e se esqueçam os agravos.

Há temas que devem visitar a campanha, como a reconstrução do pacto federativo, o melhor modelo econômico para o desenvolvimento autônomo e a postura internacional independente do Brasil. Só esse debate, franco e aberto, poderá orientar o eleitor para a melhor escolha no ano que vem. Não que a discussão tenha que ser morna e insulsa. É necessária a acidez dos debates, desde que se façam em torno de ideias e projetos. Mas é conveniente não descer ao chão do insulto, e não cair no expediente abjeto das insinuações caluniosas e infamantes.      

  Publicado em: Governo

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