Pesquisa aponta que o Brasil ainda despreza os pobres e os negros…

Publicado em   09/maio/2013
por  Caio Hostilio

Igor Mello

contradiçõesDe acordo com um estudo do Instituto Data Popular divulgado ontem (08), 39,5% da população adulta do país – cerca de 55 milhões de pessoas – não possui conta bancária. O perfil dessa população demonstra que o acesso aos serviços financeiros são exclusividade das classes mais abastadas nas grandes cidades: o brasileiro “sem banco” é pobre, negro, tem baixa instrução e vive nas regiões Norte e Nordeste, sobretudo no interior do país.

Segundo a pesquisa, realizada nos meses de fevereiro e março deste ano, essa população movimenta anualmente R$ 665 bilhões fora do sistema bancário brasileiro. Nesse grupo, 60% são negros e 68% têm no máximo o ensino fundamental completo. Em contrapartida, apenas 1% dos brasileiros com ensino superior completo não possuem contas bancárias. A cobertura também varia conforme a região brasileira: no Norte e no Nordeste cerca de metade da população adulta não é cliente dos bancos. Nas demais regiões, esse grupo fica abaixo dos 35%.

Outro aspecto relevante é quanto às relações de trabalho dos “sem banco”: trabalhadores autônomos (26%) ou sem carteira assinada (20%) são maioria, seguidos pelas donas de casa (17%). Por outro lado, apenas 8% desse grupo possui vínculo empregatício formal.

Segundo Fernando Nogueira da Costa, professor do Instituto de Economia da Unicamp, os bancos não tentam atingir esse público-alvo, por se tratarem da parcela mais pobre da população brasileira.

Para a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) – que se recusou a comentar os resultados da pesquisa – o número de clientes dos bancos têm crescido rapidamente: o Brasil passou de 82 milhões de contas correntes em 2008 para 97 milhões em 2012, com uma taxa de crescimento de 4% ao ano. Já o número de cadernetas de poupança subiu de 90 milhões para 102 milhões no mesmo período, crescendo a um ritmo anual de 3%.

O estudo do Data Popular mostra que, quanto menor o nível de renda, maior é a aversão da população em utilizar os serviços bancários. Na classe baixa, 45% dos entrevistados disse concordar com a afirmação “evito ao máximo usar os serviços de bancos”, enquanto essa porcentagem cai para 37% entre a classe alta. Da mesma forma, 47% dos mais pobres dizem preferir pedir dinheiro emprestado para uma pessoa próxima do que utilizar mecanismos de crédito. Uma coisa, no entanto, está alheia às classes sociais: 71% dos brasileiros se sentem mal atendidos nos bancos.

As justificativas para essa rejeição são muitas, segundo a pesquisa. Os brasileiros consideram o atendimento frio e impessoal e vêem os bancos como algo complicado. Grande parte dessa população – principalmente os mais pobres – sente constrangimento em procurar os serviços e acredita que eles são feitos apenas para quem tem dinheiro.

A pesquisa ouviu 2006 brasileiros em 53 cidades de todas as regiões brasileiras e tem uma margem de erro de 2,19%.

Para especialistas: “É frequente nos depararmos com problemas como cobranças indevidas e tempo de espera nas agências. Nos correspondentes bancários não há quem garanta os direitos do correntista. Hoje os bancos têm uma exigência em relação ao tempo de espera para atendimento, mas ninguém controla isso nas casas lotéricas, que viraram efetivamente agências bancárias”, aponta.

Dados do IDEC mostram que o mau atendimento nos serviços bancários são recorrentes. Nos últimos três anos, o setor esteve entre os campeões de reclamações.

  Publicado em: Governo

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