JB
Condenado a 13 anos de reclusão, por gestão fraudulenta de instituição financeira, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), o banqueiro Angelo Calmon de Sá, ex-dono do Banco Econômico, sempre andou às voltas com a Justiça, mesmo nos tempos em que era o todo poderoso ministro da Indústria e Comércio do Governo Geisel, em plena Ditadura Militar. Em 1975, o Banco Econômico emitiu um cheque sem fundos, que acabou se transformando num dos grandes escândalos da Ditadura. Mesmo assim, devido à proteção dos generais, Calmon de Sá não foi demitido do cargo e em seguida aprontou novamente.
Dois anos após o cheque sem fundo, o Banco Econômico fez um empréstimo ao Botafogo, mas o clube não teve condições de honrar o compromisso. O banqueiro então, para evitar o prejuízo, conseguiu transferir a dívida para a Caixa Econômica Federal que assumiu o débito e o Botafogo acabou perdendo sua sede em General Severiano. Mesmo com a perda do patrimônio, o valor do empréstimo ao clube nunca foi recuperado integralmente e esse débito acabou sendo pago por todos os brasileiros.
Nos anos 90, já em sérias dificuldades, o Banco Econômico recebeu R$ 3 bilhões do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que não foram suficientes para evitar a intervenção do Banco Central, em 1995. Com o anúncio da intervenção, uma verdadeira tropa de choque de políticos acorreu ao Palácio do Planalto para tratar com o presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o fato. No entanto, a maior e verdadeira preocupação dos políticos que apoiavam o banqueiro não era com a situação em que se metera Calmon de Sá, mas com um documento que se encontrava nas dependências do Banco Econômico, sob intervenção.
Uma “PASTA ROSA”, contendo todas as doações de campanha feitas por Calmon de Sá a muitos políticos poderosos da época – entre eles Antonio Carlos Magalhães – foi achada pelo interventor do BC propositalmente jogada numa das salas da diretoria do Banco, com o claro intuito de que seu conteúdo fosse revelado e divulgado amplamente, como realmente acabou acontecendo. A pasta, na verdade, vinha servindo para chantagear os políticos que estavam na lista de doações e com suspeita de depósitos no exterior. Eles pretendiam evitar a divulgação da lista, mas todos os nomes acabaram sendo revelados. Ainda nessa época, Calmon de Sá teve um time de importantes advogados que o defenderam nas ações que começavam a pipocar na Justiça. Posteriormente, um desses advogados tornou-se ministro de Estado.
Calmon de Sá também tinha interesse em empresas de comunicação e tentou envolver jornalistas em seus negócios e até adquirir uma empresa da área, que se encontrava em dificuldades financeiras, com empréstimos feitos pelo Banco Econômico, que também enfrentava dificuldades. Conforme publicado em importantes veículos de comunicação, o banqueiro baiano tentou também que o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, intercedesse junto ao Governo Federal para extinguir a intervenção em seu banco e, ainda por cima, pretendia receber de crédito R$ 4 bilhões, que ele achava ter direito. De acordo com informações do Banco Central, a dívida hoje do Econômico já chega a R$ 18 bilhões.
Recentemente, Calmon de Sá obteve uma redução da pena relativa à gestão fraudulenta, que previa inicialmente 13 anos de reclusão e passou para quatro anos e dois meses em regime semi-aberto. O ex-todo poderoso, uma espécie de Dom Corleone dos trópicos, hoje encontra-se no mesmo nível do contraventor Carlinhos Cachoeira.
Publicado em: Governo
[…] Fonte: Caio Hostilio […]