JB
Grandes empreiteiras do país estariam colocando suas aeronaves para a venda. Coincidência ou não, a suposta operação conjunta surge ao mesmo tempo em que a Operação Lava Jato, que investiga os casos de corrupção ligados à Petrobras, deve se voltar para essas grandes empresas, apontadas em depoimentos de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, e do doleiro Alberto Youssef. Há informações de que em torno de 20 jatinhos de empreiteiras estariam à venda na Pampulha.
Com base em informações disponibilizadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é possível consultar a situação de cada aeronave privada brasileira. A partir de uma busca com o nome das próprias empreiteiras na base de dados do RAB (Registro Aeronáutico Brasileiro) de setembro, pode-se descobrir o número da matrícula de determinada aeronave e então checar sua situação em uma plataforma de busca, que revelou que algumas aeronaves de empreiteiras estão em situação de hipoteca, penhora e arrolamento de bens.
A Mendes Junior, citada por Costa, tem três aeronaves cadastradas em seu nome, como proprietária, e em uma delas também como operadora. Destas, com cadastro de Minas Gerais, todas estão em situação de hipoteca, penhora e arrolamento de bens, e outras ainda em arrendamento operacional. O Jornal do Brasil entrou em contato com a empresa por meio da assessoria de imprensa, para confirmar a suposta venda de aeronaves e a situação específica de cada uma das aeronaves consultadas, mas a empreiteira não respondeu até o fechamento desta matéria.
A Queiroz Galvão tem uma aeronave registrada em seu nome como proprietária e operadora, e outra como operadora. A primeira está em situação de hipoteca e comodato, e a segunda em arrendamento operacional e comodato. A empreiteira também não retornou à reportagem até o fechamento.
A Construtora OAS, por sua vez, apresentava uma aeronave em seu nome, como operadora, com o campo “Data da Compra/Transferência” em branco, e situação de “alienação fiduciária / cessão onerosa de uso”. Em resposta, a OAS informou que “a empresa encontra-se em processo normal de renovação de frota”.
A Andrade Gutierrez, das quatro aeronaves registradas em seu nome como operadora ou proprietária, apresentava uma também com o campo da data de compra/transferência em branco. Procurada, no entanto, informou que não está vendendo nenhuma aeronave, e comentou sobre a presença de seu nome em depoimentos da Operação Lava Jato:
“A Andrade Gutierrez informa que as duas citações feitas à empresa nas gravações dos depoimentos do Sr. Paulo Roberto Costa e do Sr. Alberto Youssef deixam claro que não há qualquer envolvimento da companhia com os assuntos relacionados às investigações. No depoimento de Alberto Youssef, ele afirma categoricamente que não tinha qualquer contato com a Andrade Gutierrez ou qualquer um de seus executivos. No trecho do depoimento de Paulo Roberto Costa, ele cita o nome de um ex-funcionário da Andrade Gutierrez, que trabalhou por pouco tempo na empresa e que, por atuar no setor de óleo e gás, era natural que mantivesse contatos de trabalho com funcionários da Petrobras. A Andrade Gutierrez reitera que não tem ou teve qualquer envolvimento com os fatos relacionados com as investigações em curso e entende que o contexto das citações em que aparece o nome da empresa reforça esse posicionamento.”?
A reportagem do Jornal do Brasil não encontrou registros de aeronaves vinculadas formalmente a outras empreiteiras citadas durante a investigação. No caso da Odebrecht, que tem duas aeronaves registradas em seu nome na base de dados da RAB, a assessoria não quis responder sobre a suposta tentativa de vendas de aeronaves, já que o registro atual das que estão em seu nome não indica nenhuma situação extraordinária ou venda efetuada.
Publicado em: Governo