Por André Guilherme Vieira e Raphael Di Cunto | De São Paulo e Brasília
A suspeita de corrupção em contratos de empreiteiras com a Petrobras “coloca em cheque inclusive as doações eleitorais legalmente registradas, que podem indicar uma forma estruturada de lavagem de dinheiro em que as ‘contribuições’ são repassadas por meio de doações ‘legais’ para financiar campanhas políticas”, afirma o relatório de inteligência da 7ª fase da operação Lava-Jato, intitulado “Juízo Final”.
A nova etapa da Lava-Jato, iniciada na última sexta-feira com a prisão de diretores e presidentes de nove das maiores empreiteiras do país, deverá se desdobrar em novas denúncias, acusações formais feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) por crimes envolvendo formação de cartel, corrupção e lavagem de dinheiro.
O indício apontado pela Polícia Federal (PF) no relatório de inteligência tem potencial para comprometer metade do Congresso Nacional. Levantamento do Valor, com colaboração do Valor Data, mostra que oito das nove empreiteiras listadas nesta fase da operação ajudaram a eleger 259 dos 513 deputados federais eleitos com a distribuição de R$ 71 milhões em doações. Trata-se de 50,4% da futura Câmara.
Os dados, que contabilizam repasses das empreiteiras e principais subsidiárias de cada grupo, constam da prestação de contas entregue pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apenas a Iesa Óleo e Gás não tem nenhuma doação registrada.
O grupo com maior volume de doações – e aliados na futura Câmara dos Deputados- é a Odebrecht, que transferiu R$ 37,9 milhões para 141 deputados eleitos. Em seguida aparecem os grupos Queiroz Galvão (R$ 9,8 milhões para 88 eleitos), OAS (R$ 8,4 milhões para 84 deputados), UTC (R$ 5,6 milhões para 58 eleitos) e Galvão Engenharia (R$ 4,3 milhões para 14 deputados).
Os repasses de Camargo Corrêa, Engevix e Mendes Júnior totalizaram R$ 4,9 milhões, para 45 deputados eleitos. As doações foram feitas para partidos de todos os espectros políticos. Estão na lista deputados do PT, PMDB, PP, PDT, PCdoB, DEM, PSDB, PR.
O relatório de inteligência policial assinala ainda que, “em que pese as palavras do colaborador [Paulo Roberto Costa] não devam ser reconhecidas como verdade inquestionável, é fato que há farto material probatório já angariado a amparar a estrutura criminosa de desvio de recursos e distribuição de valores”. E destaca ainda: “Não se trata apenas de depoimentos isolados, mas de narrativas coerentes em sua grande maioria, que se amparam no material probatório já angariado.”
Publicado em: Governo