A delegada Barbara Lomba, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), disse, nesta sexta-feira, que ainda não está clara para a polícia a motivação do assassinato do pastor evangélico Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis (PSD), morto no último domingo, na casa da família, em Pendotiba, Niterói, Região Metropolitana.
— Não está esclarecida se a execução aconteceu daquela forma que foi narrada, se são só essas pessoas envolvidas, então, muita coisa ainda está indefinida. São muitas as motivações possíveis, pode ser mais de uma. Temos muito trabalho a fazer. O crime foi no domingo, a polícia não pode trabalhar em uma semana e resolver, pois há o risco de conduzirmos a investigação de forma equivocada. E não está comprovada a relação extraconjugal.
De acordo com os relatos ouvidos pela polícia, antes de ser assassinado, o pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis (PSD), estava trocando de roupa em um cômodo próximo à garagem da casa. A delegada afirmou também que precisa ouvir mais e novas testemunhas:
— Sabemos que eles chegaram em casa, pelos relatos e pelas imagens, que a vítima chegou em casa e, alguns minutos depois, quando já estava trocando de roupa, teria voltado ao carro. Não se sabe o motivo. Em depoimento, a Flordelis disse que estava no terceiro andar na hora que ouviu os tiros, que não teria presenciado o crime.
Bárbara comentou também que não vai comentar sobre um possível envolvimento da deputada no assassinato. Sobre o fato de que o casal estaria sendo perseguido por criminosos antes de chegar em casa, ela destaca que isso não foi informado à Polícia Civil. Em entrevistas, a deputada contou que ela e o marido tinham acabado de voltar de carro de uma confraternização quando o crime aconteceu. Na altura de uma filial do McDonald’s, no bairro de São Francisco, Flordelis percebeu que estavam sendo seguidos por duas motocicletas.
— Isso foi dito em entrevistas à imprensa, não foi falado em sede policial. Claro que isso vai ser considerado. Mas, se algo é falado em inquérito, e outra coisa é dita em mais canais, é preciso que se verifique.
Flávio dos Santos, de 38 anos, que já admitiu ter efetuado seis disparos contra o cadastro, e Lucas dos Santos, de 18 anos, que teria ajudado a comprar a arma, estão detidos na sede da especializada. Nesta quinta-feira, o Plantão Judiciário expediu o mandado de prisão preventiva contra eles. Bárbara também destacou que o corpo do pastor tinha 30 perfurações, o que não indica o número de disparos efetuados, já que uma mesma bala pode ter entrado e saído várias vezes do corpo de Anderson.
Segundo a advogada de Flávio, Alexandra Menezes, ele está sozinho em uma cela. Ela ainda não teve acesso ao inquérito, o que deve acontecer na segunda-feira.
— A minha conversa com ele foi sigilosa. Ainda está muito prematuro, preciso ter acesso ao inquérito para estabelecer uma defesa. Ele está sozinho em uma cela, bastante abatido com esse caso. É uma situação que ninguém gostaria de passar.
Por volta das 11h45 desta sexta-feira, três parentes da deputada Flordelis e do pastor Anderson do Carmo chegaram na sede da DHNSG. Elas estavam acompanhadas de uma advogada, que afirmou o parentesco.
Foro privilegiado
Como deputada federal, Flordelis tem foro por prerrogativa de função. No entanto, após restrições aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado, ela pode ser investigada nesse caso, por ser fato não relacionado ao mandato. Especialista em Direito Público e professor da UFRJ, João Pedro Accioly Teixeira ressalta as restrições definidas pelo STF.
— Agora, o foro privilegiado só vale para fatos relacionados ao exercício do mandato e durante o tempo de função. Não vale para fatos pretéritos, nem quando o parlamentar perde o mandato — resumiu. — (Em caso de investigação) A defesa (da deputada) poderia até recorrer para tentar construir alguma tese, mas é muito difícil de ela conseguir deslocar essa questão para o Supremo.
Professor da PUC-RJ e especialista em Direito Criminal, Breno Melaragno observa que a investigação deverá ocorrer naturalmente, independente da condição de parlamentar.
— Neste caso, é um fato que não tem relação com o mandato. Encontrando indícios veementes contra ela, a polícia pode até pedir a prisão temporária. Mas a prisão temporária se dá por necessidade de investigação, não por antecipação de culpa.
Celulares desaparecidos
A Polícia Civil segue em busca dos aparelhos celulares de Anderson e de Flávio, que já foram requisitados. Flordelis afirma não saber onde está o telefone do marido assassinado. Na última terça-feira, antes da vistoria de homens da Especializada de Niterói e São Gonçalo, objetos foram queimados no quintal da casa da família. A polícia recuperou o material incinerado para perícia, mas, o que realmente chamou atenção dos investigadores, foi a presença de um edredom com manchas de sangue num dos quartos. Na segunda-feira, no armário de Flávio, homens da DH encontraram uma arma que teria sido utilizada no crime.
Segundo uma fonte da polícia, eles estiveram na casa da família antes do crime. No dia da morte do pastor, o cão da família estaria dopado. A polícia aguarda a análise do sangue do animal para saber se alguém de dentro de casa colocou remédio para evitar a reação do cachorro, no momento do homicídio.
A vida da deputada federal Flordelis já foi contada em um filme. Lançado em 2009, o longa-metragem “Flordelis – basta uma palavra para mudar” contou com elenco de 28 atores. Coube ao ator Marcelo Anthony interpretar o pastor Anderson. Nenhum dos artistas cobrou cachê para interpretar a trajetória da missionária evangélica, e a renda do filme foi investida na compra de uma casa para família em São Gonçalo.
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