Houve perda de 33% no impresso. No venda on-line, alta foi de 25%. No geral, tiragem total caiu 1,1%. Digital: Folha e Globo quase iguais
A história dos grandes jornais diários brasileiros durante os 2 primeiros anos de mandato de Jair Bolsonaro (2019 e 2020) é de sobrevivência. Passados 24 meses, 10 dos principais veículos do país conseguiram juntos manter sua circulação, quando se somam os exemplares pagos impressos e digitais.
Em dezembro de 2018, a circulação total (impressa e digital) desses 10 jornais tradicionais era de 1.444.104 exemplares. Em dezembro de 2020, segundo o IVC (Instituto Verificador de Comunicação), o número foi de 1.428.073. Uma queda ínfima de 1,1%, que pode ser entendida como estabilidade.
Para esta reportagem a respeito do setor de mídia, o Poder360 selecionou estes 10 veículos: Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de S.Paulo, Super Notícia (MG), Zero Hora (RS), Valor Econômico, Correio Braziliense (DF), Estado de Minas, A Tarde (BA) e O Povo (CE).
Cabe destacar que, quando analisados separadamente, esses 10 veículos contam histórias diferentes nos 2 primeiros anos do governo Bolsonaro. Folha, Globo, Valor e A Tarde tiveram desempenhos positivos em suas tiragens pagas. Os demais enfrentaram uma queda global de circulação.
Os números estão detalhados a seguir:
MAIS DIGITAL, MENOS IMPRESSO
É mais fácil entender o que se passou com a circulação total dos 10 grandes jornais diários em 2019 e 2020 quando se consideram as suas versões impressas e digitais. Há grande diferença:
- jornais impressos – em dezembro de 2018, os 10 veículos selecionados pelo Poder360 tinham 654.144 de tiragem média diária. Em dezembro de 2020, o número caiu para 437.969, uma queda expressiva de 33%;
- assinaturas digitais – nos 2 anos de Bolsonaro, o número de assinantes digitais dos 10 grandes jornais subiu de 789.960 para 990.104, uma alta de 25,3%.
Chama a atenção a disputa acirrada entre os jornais Folha de S.Paulo e O Globo pela liderança nas assinaturas de suas versões digitais. A Folha terminou 2020 com 278.137 exemplares digitais pagos (alta de 12% sobre 2019). O Globo fechou o ano passado com 263.571 cópias digitais (crescimento de 13%).
O Estadão ficou quase estável, com alta de 3% nas suas assinaturas digitais, que fecharam 2020 com 152.933 cópias.
Já Valor Econômico é o maior caso de sucesso no ano passado, quando encerrou o período com 102.467 assinaturas digitais, uma alta expressiva de 28% sobre 2019.
Ao mesmo tempo, o principal veículo de jornalismo econômico brasileiro desidratou completamente quando se trata de sua versão impressa: o Valor tinha só 19.022 exemplares em papel em dezembro passado. Além disso, o diário de propriedade do Grupo Globo parou de ser enviado para Brasília, onde só é possível ler suas reportagens no meio digital.
Destaques negativos foram os diários Correio Braziliense e Estado de Minas, ambos do grupo Diários Associados, que enfrenta recorrentes dificuldades financeiras. Esses 2 jornais perderam tiragem impressa e digital. O Correio terminou 2020 com uma circulação total 35.397, uma queda de 24%. O Estado de Minas fechou o ano passado com 37.605, queda de 18%.
2019 X 2020
Quando se compara o ano 2020 com o de 2019, o total de exemplares (digitais e impressos) teve queda. Em dezembro de 2019, a circulação média era de 1.486.998 cópias por dia. Em dezembro de 2020, a cifra era de 1.428.073 –queda de 4%.
A mídia mais estabelecida e tradicional ainda não parece ter consolidado um modelo de negócios sustentável.
As versões impressas dos jornais ainda atraem os anúncios de maior valor agregado. Mas sofrem queda ano a ano. Nesta série, acima, os números de jornais em papel mostram que esse tipo de plataforma está chegando ao seu crepúsculo.
Segue em risco também uma fonte garantida de receita: os balanços que empresas de capital aberto são obrigadas a publicar em jornais de grande circulação, como determina a lei. Bolsonaro já tentou derrubar essa norma, mas foi impedido pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), no comando da Câmara. Nada impede que essa iniciativa volte ao Legislativo neste ano, quando o demista deixar a cadeira. Os jornais brasileiros têm um faturamento anual estimado de R$ 600 milhões.
Em 2014, a circulação média diária impressa de 10 veículos selecionados pelo Poder360 era de 1.217.925. Agora, a cifra é de 437.969, uma queda espetacular de 64%.
Jornais que já tiveram circulação de mais de 1 milhão de exemplares por dia hoje estão longe desse tipo de audiência. A Folha, aos domingos, chegou a ter 1,5 milhão de cópias aos domingos no início da década de 1990. Hoje, o diário paulista imprime 65.385 exemplares.
A mesma Folha que hoje é apenas o 4º jornal com maior tiragem impressa tem a liderança nas assinaturas digitais: 278.137 (crescimento de 12% sobre 2019). O problema é que a estrutura dos jornais é enorme, com gráfica, papel e tinta, sem contar a distribuição. A receita de assinantes digitais ainda é tímida em muitos veículos para compensar a perda ocorrida na operação impressa.
Tudo considerado, o que parece certo é que os jornais em papel serão cada vez mais um produto para nichos e o futuro já chegou, com o digital. O dilema dos grandes veículos é como fazer a transição completa sem matar a plataforma que ainda oferece a maior receita para anúncios.
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