Vítima precisou sair da casa onde morava com o militar. Pela primeira vez em 40 anos de casamento, ela teve coragem de registrar ocorrência
Ao quebrar o silêncio após sofrer violência doméstica por 40 anos, uma mulher, de 60, expôs que o marido, um coronel reformado da PMDF, dormia com a arma apontada para ela. A vítima precisou sair da casa onde morava com o militar, na Colônia Agrícola Samambaia, no último domingo (22/5), após ser ameaçada de morte.
Pela primeira vez, ela teve coragem de registrar ocorrência contra o companheiro. O caso é investigado pela 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires).
Ao relatar os crimes, a vítima definiu o marido, de 76, como violento e controlador. Ela foi impedida de trabalhar e ter contato com outras pessoas. Era espancada constantemente e sofria, além da violência física, série de ataques psicológicos. A pedido da vítima, que tem filhos com o acusado, os nomes dos envolvidos serão preservados.
A mulher também alertou aos policiais que, por ser coronel da PM, o companheiro está sempre armado. No último incidente, ao sair de casa, o militar chegou a dizer que, antes de morrer de velhice, a mataria.
Em uma tentativa de se salvar, a vítima chegou a procurar abrigo na casa do filho. Entretanto, ela conta que o PM segue com ameaças e foi alertada por familiares a se esconder. Desesperada, a mulher pediu medidas protetivas de urgência e solicitou a apreensão da arma do policial aposentado.
Em decisão assinada na última segunda-feira (23/5), o juiz Carlos Bismarck de Azevedo Barbosa concedeu a medida protetiva e determinou a apreensão da arma de fogo.
“A palavra da vítima tem grande relevância nesse momento processual, pelo que a informação por ela trazida no sentido de que tem sido vítima de violência doméstica ao longo dos anos, que seu esposo é militar reformado e atualmente sofre de demência, demonstra a necessidade de se conceder medidas para a sua proteção”, disse.
“Deste modo, em face da gravidade dos fatos narrados e a fim de se evitar a ocorrência de novos desentendimentos entre as partes que culminem em violência doméstica em desfavor da vítima, devem ser deferidas as medidas protetivas de proibição do agressor de se aproximar da vítima, bem como a proibição do autor de frequentar a residência da vítima, mantendo distância mínima de 300m do local”, completou o magistrado.
O juiz destacou que a situação de vulnerabilidade da vítima se torna grave porque o autor “é militar reformado, possuindo arma de fogo, já ameaçou lhe matar e está sofrendo de problemas mentais”.
Não há laudo, porém atestando a demência do acusado. A coluna não conseguiu contato com a defesa do militar. O espaço segue aberto para manifestação. A PMDF também foi acionada, mas a reportagem ainda não obteve resposta.
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