Carro de prefeitura em estacionamento, nome do evento na ponta da língua do segurança e boom de clientes: o efeito político na prostituição
O segurança argumentava com quem estava em dúvida sobre se deveria entrar e conhecer o lugar. Dizendo que o estabelecimento estava “lotado de mulher”, o funcionário até garantiu o dinheiro de volta caso elas não agradassem ao cliente. Nas conversas sobre a lotação do espaço, ele afirmava que o movimento estava alto e chegou a citar o nome exato do encontro político. “É a Frente Nacional dos Prefeitos, né?”.
Uma noite com Joyce, por exemplo, custa R$ 1 mil, mas é preciso pagar o valor do quarto, de R$ 250, e ao menos três drinks antes do programa. Uma só bebida “Paixão”, com gin, por exemplo, custa R$ 95.
Show com armas… de brinquedo
Nas terças-feiras, a boate de stripper conta com a “noite do boteco”, o que custa a cada cliente mais R$ 50 de couvert artístico para a dupla sertaneja. O interior da casa, porém, era o oposto de um bar barato onde amigos tomam uma cerveja, até porque uma só long neck custava R$ 35. Em uma mesa, três homens de roupa social pediram garrafas de champanhe e de gin e logo foram acompanhados por três garotas.
Bem à vontade, o grupo passava a mão nas mulheres, beijava na boca, dava abraços por trás e era advertido por elas quando tentava avançar um pouco mais: “Assim, só no quarto”. Caso o homem queira ainda mais discrição, pode subir em um elevador privativo e encontrar a garota já no apartamento reservado para o programa. Os shows de stripper começaram cedo por conta da lotação da casa.
Se a segurança pública foi pauta nos encontros dos prefeitos durante o dia, à noite ela também teve seu espaço no bordel. A apresentação que mais agradou aos clientes foi de Catarine*. Ela entrou no palco segurando uma arma de brinquedo e um taser de choque, e estava vestida com calcinha e sutiã personalizados para uma fantasia de “policial sexy”.
Quartos lotados
Dançando no pole dance e com os clientes nas mesas, ela tirou a roupa e se exibiu no colo de um homem acompanhado por amigos de terno. Na lapela de um deles, era possível ver um broche, indicando provavelmente um partido ou associação política. As garotas que não se apresentaram ficaram acompanhando o show.
Uma delas comentou que não via a casa lotada daquela forma havia algumas semanas. Aberta desde as 22h, a boate teve pico por volta da meia-noite, quando três mulheres já haviam se exibido. “Hoje tem mais cliente do que mulher”, observou Ana*. Quando mais um homem chegava para a festa, os amigos gritavam em comemoração. O espaço reuniu casados, solteiros, mais velhos, mais novos, discretos e mais soltos.
Por volta das 2h, o espaço foi ficando mais vazio de clientes e garotas de programa, enquanto os quartos recebiam mais gente. O dono do espaço observava pessoalmente se tudo estava funcionando da melhor forma possível para os homens. Na hora de pagar a conta, cada um gastava facilmente cerca de R$ 5 mil.
Outros estabelecimentos semelhantes em Brasília também contam com a fama de receber políticos, assessores e empresários durante grandes eventos na capital. A agenda que reuniu os prefeitos no Distrito Federal acontece anualmente. Em 2023, eles elaboraram uma carta ao presidente Lula reafirmando a importância do diálogo com o governo federal e pedindo, entre outras pautas, “uma reforma tributária que melhore o ambiente de negócios”.
*Os nomes das garotas foram substituídos por nomes fictícios
Publicado em: Política