Dino e a defesa do ativismo judicial… “Máquinas produtoras de angústia”

Publicado em   26/fev/2025
por  Caio Hostilio

Ministro do STF refaz defesa aberta do ativismo judicial, que degrada o Supremo na tentativa de salvar a humanidade com o “constitucionalismo sorridente”

Dino contra as “máquinas produtoras de angústia”

Nenhum ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) faz uma defesa tão aberta do ativismo judicial como Flávio Dino (foto). Nem hoje, nem nunca.

O ministro com “cabeça política” indicado por Lula já tinha falado sobre o assunto abertamente na última edição do Gilmarpalooza, no ano passado, em Lisboa, e repetiu o discurso, de forma ainda mais apaixonada, diante dos calouros de direito da PUC em São Paulo, em Aula Magna na noite de segunda-feira, 23.

“Essa é uma marca do nosso tempo, que veio para ficar. Essa ideia de alto protagonismo, que não pode significar protagonismo total, mas esse alto protagonismo do poder Judiciário no Brasil é algo que veio para ficar. Na minha ótica. Principalmente porque nós estamos vendo as dificuldades próprias do mundo da política. Se a política não consegue resolver os problemas, isto vai para algum lugar no mundo e isto também se refere ao Brasil”, discursou Dino, acrescentando:

“O Supremo, portanto, a meu ver, independentemente da coragem ou da opção teórica de cada julgador, está, entre aspas, condenado, entre aspas, a arbitrar temas políticos, econômicos e sociais, o que significa dizer que nós vamos continuar apanhando muito.”

Quem apanha?

Infelizmente, quem “apanha” por esse “alto protagonismo” não são apenas os ministros do STF, mas também o próprio tribunal. E uma indicação disso foi dada pela pesquisa CNT/MDA divulgada na terça-feira, 25.

Segundo o levantamento, que confirmou a queda de popularidade do governo Lula, apenas 22,5% dos brasileiros acreditam que a denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra Jair Bolsonaro e 33 de seus aliados por crimes como golpe de Estado foi legítima e baseada em fatos reais.

A maior parte dos entrevistados (33,2%) acha que o documento da PGR foi motivado politicamente. Outros 31% dizem ter havido uma “combinação de fatos reais e motivação política“.

“Motivação política”

É de se imaginar que a grande maioria dos brasileiros não conhece em detalhes o processo, nem prestou atenção às provas colhidas pela Polícia Federal para indiciar Bolsonaro e seus aliados por uma trama golpista.

Mas praticamente todo mundo conhece Alexandre de Moraes e deve ter ouvido falar em algum momento que ele é vítima, relator e juiz desse processo. Outros devem saber que Gonet foi sócio do decano Gilmar Mandes, que não se furta a comentar esse, entre outros processos, antes de julgá-los.

“Não quebraram o Brasil”

Na Aula Magna da PUC, Dino defendeu sua própria atuação em questões como a administração de cemitérios de São Paulo, as emendas parlamentares e a liberação de créditos extraordinários de 500 milhões de reais para combater queimadas.

“Houve economista que disse que eu ia quebrar o Brasil com essa decisão, sendo que, para a enchente do Rio Grande do Sul, corretamente, os créditos extraordinários chegaram a 15 bilhões de reais, e não quebraram o Brasil”, disse o ministro.

Esses créditos extraordinários não quebraram o país, apenas contribuíram, junto com o perdulário governo Lula, para ampliar a dívida pública, que se aproxima do nível de dominância fiscal, no qual a taxa básica de juros, administrada pelo Banco Central, perde a força para conter a inflação.

“Máquinas produtoras de angústia”

O ministro do STF defendeu também o julgamento em que o Supremo vai se encaminhando para responsabilizar as plataformas de rede social por publicações de seus usurários, o que ampliaria a censura prévia.

“Nós precisamos, como sociedade, enfrentar o tecnodeterminismo. É a questão mais importante do nosso tempo”, disse, dissertando sobre a evolução tecnológica que demandaria regulação e dizendo que o mundo inteiro se debruça sobre essa questão — mas omitindo que não há um tribunal se comportando como o STF brasileiro em nenhum outro país do mundo.

Dino voltou à época das primeira e segunda guerras mundiais para dizer que “o questionamento desse evolucionismo que marcaria o caminho luminoso das democracias ocidentais” não era tão agudo quanto é agora, muito por causa “da força da economia da atenção”, administrada pelos celulares, “máquinas produtoras de inveja, produtoras de angústia”.
O ministro ainda defendeu o “constitucionalismo social”, ao falar sobre a necessidade de regular as relações de trabalho, e o “constitucionalismo sorridente”, pois “só ri quem dorme em paz, e quem serve ao outro, quem serve as pessoas, esses são os que verdadeiramente dormem em paz”.

Autocontenção

Dino disse também que “é falsa a ideia que autocontenção é algo bom e ativismo é algo ruim”.

“E é falsa a ideia de que o Supremo, quando se abstém de decidir alguma coisa, fez o certo”, seguiu, mencionando o caso de Olga Benário, ao qual sempre costuma recorrer nesses momentos, e a segregação racial nos Estados Unidos.

Ele até admitiu que, “ao decidir muito, o Supremo, até por efeito aritmético, erra”, mas apenas para dizer que “o erro maior, a meu ver, neste instante tão difícil na história da humanidade, seria dizer que isso não é um problema jurídico, é um problema político”.

Sorriso amarelo

O problema é que o STF perde valor jurídico a cada querela política em que se mete. Sua autoridade para mediar questões constitucionais, que é a razão de sua existência, se esvazia a cada entrevista desnecessária de seus membros, e a instituição se vulgariza progressivamente.

Sem a autocontenção defendida por Edson Fachin, o único ministro da Corte a verbalizar claramente objeção a esse discurso de Dino, vai ganhando força o único meio previsto em lei para regular o STF.

Quando chegar o momento do primeiro impeachment da história do Supremo, restará um sorriso amarelo ao constitucionalismo defendido por Dino.
Por o antagonista

  Publicado em: Política

Deixe uma resposta

Contatos

hostiliocaio@hotmail.com

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

Busca no Blog

Arquivos

Arquivos