
A revista americana The New Yorker publicou nesta segunda-feira (8) um perfil extenso do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), descrevendo-o como um “jurista combativo” e um dos personagens centrais na disputa sobre os limites da atuação do Judiciário frente à desinformação e ao extremismo político nas redes sociais.

Assinado pelo jornalista Jon Lee Anderson, o texto apresenta Moraes — apelidado informalmente de “Big Alex”, em adaptação ao “Xandão” — como alguém “frequentemente descrito como o segundo homem mais poderoso do Brasil” e que “está testando os limites de sua autoridade”. O perfil será distribuído na edição impressa da revista em 14 de abril, sob o título Homens Fortes.

Na reportagem, Anderson relata os esforços do ministro no enfrentamento ao que chama de “direita radical digital”. Segundo o texto, Moraes enxerga o Brasil como um “campo de testes” para iniciativas políticas baseadas no uso intensivo das redes sociais.
“De um lado, estavam Alexandre de Moraes e seus aliados. Do outro, uma coalizão internacional de influenciadores da direita, incluindo [o ex-presidente] Bolsonaro, [o bilionário] Elon Musk e, cada vez mais, [o presidente americano] Donald Trump”, escreve o jornalista.

O perfil também aborda as decisões judiciais de Moraes que levaram ao bloqueio de plataformas como Telegram, X (antigo Twitter) e, mais recentemente, o Rumble. As empresas afetadas contestam as medidas em ações judiciais nos Estados Unidos, alegando violações à Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão.
Ao comentar a possibilidade de pressão externa, Moraes ironizou: “Eles podem entrar com processos, podem colocar o Trump para falar. Se eles mandarem um porta-aviões, aí a gente vê. Se o porta-aviões não chegar até o Lago Paranoá, não vai influenciar a decisão aqui no Brasil”.
Para o ministro, a mobilização digital se tornou uma ameaça concreta à democracia. “A direita radical percebeu, durante a Primavera Árabe, que as redes sociais podiam mobilizar pessoas sem intermediários. Se Goebbels [ministro da propaganda nazista] estivesse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos condenados”, afirmou.
A reportagem também traz críticas de Moraes à forma como o conceito de liberdade foi apropriado por grupos políticos. “É uma façanha impressionante de lavagem cerebral”, disse, referindo-se à atuação de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O texto cita ainda a trajetória profissional de Moraes, desde sua formação em Direito pela USP até a chegada ao STF, destacando passagens pela promotoria e cargos na gestão pública de São Paulo. Segundo a revista, sua indicação ao Supremo ocorreu durante o governo de Michel Temer, após ocupar o Ministério da Justiça.
“Quando me tornei ministro da Justiça, toda a esquerda me chamava de golpista. Eles me odiavam. Agora, é a direita radical que me odeia”, declarou Moraes.
O perfil apresenta opiniões divergentes sobre os limites da atuação do ministro. O jornalista Felipe Recondo, autor de livros sobre o STF, afirma que “o risco é se criar uma autoridade sem controle”. Anderson escreve que “por vezes, as investigações de Moraes extrapolaram os limites de sua autoridade”, citando como exemplo o bloqueio de contas em redes sociais sem justificativas públicas.
O texto também inclui declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que critica a influência de empresas de tecnologia na política. “Acho que, em nenhum país do mundo, ainda temos uma forma sofisticada de garantir soberania”, afirmou o presidente, ao comentar a atuação da Starlink, empresa de Elon Musk, na Amazônia.
Lula acrescentou que, atualmente, ameaças à democracia não dependem de tanques ou fechamento do Congresso. “Agora, alguém pode falar com 213 milhões de brasileiros sem nunca ter pisado no Brasil. Nenhuma empresa, por mais poderosa que seja, colocará nossa democracia em risco”, disse.
A matéria ainda traz entrevistas com a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) e o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que defendem no Congresso uma regulamentação para responsabilizar plataformas digitais por discursos de ódio e desinformação. Também relata o caso da jornalista Patrícia Campos Mello, alvo de ataques durante o governo Bolsonaro.
Por fim, Moraes rebate a ideia de perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que se tornou réu por tentativa de golpe de Estado. “Não foi só a Polícia Federal que os acusou — o próprio procurador-geral decidiu apresentar denúncia. Não há a menor possibilidade de o STF reverter a inelegibilidade de Bolsonaro”, afirmou.
Bolsonaro está impedido de disputar eleições até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusado de abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação.
Por Gazeta do Brasil
Publicado em: Política