O lançamento da federação entre União Brasil e Progressistas (PP), realizado nesta terça-feira (30), marcou um reposicionamento político significativo no cenário nacional. Com 109 deputados e 14 senadores, além de seis governadores e mais de 1.300 prefeitos, a nova aliança se consolida como a maior força partidária do país — e envia um recado claro ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): o apoio está cada vez mais distante. A cerimônia de oficialização do bloco no Congresso reuniu nomes próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro e reforçou o alinhamento à direita, mesmo com União e PP ainda ocupando quatro ministérios no governo petista. As informações são do jornal O Globo.
Embora ministros indicados pelos dois partidos — Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes) — tenham representado o governo no evento, nenhuma liderança do PT participou da cerimônia. Em contraste, estavam presentes figuras centrais do bolsonarismo, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara.
O manifesto da federação, divulgado na solenidade, defende um “choque de prosperidade” e propõe uma agenda de menor intervenção estatal na economia, em crítica direta ao modelo petista. A única política econômica elogiada foi o Plano Real, de Fernando Henrique Cardoso. A nova sigla também prega uma reforma administrativa mais ampla do que a proposta pelo governo.
O vice-presidente do União Brasil, ACM Neto, explicitou o tom da guinada: “Bolsonaro é um personagem político com tamanho e densidade eleitoral inegável no campo da direita. Ninguém pode querer construir um projeto de enfrentamento ao PT sério, competitivo e vitorioso sem considerar isso.”
Já o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), colocou 2026 no centro do discurso: “Hoje, nessa federação dos dois grandes partidos, transferimos a todos nós a responsabilidade sobre nossos ombros. (Temos que) saber ganhar o processo eleitoral de 2026. Esse é desafio, estamos aqui construindo um novo rumo para o país.”
Apesar do clima de celebração, a criação da federação não ocorreu sem ruídos. A presidência conjunta entre Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União Brasil) desagradou o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que ambicionava o posto. Ambos os presidentes são próximos a Bolsonaro e tentam viabilizar uma candidatura unificada da direita para 2026.
Entre os nomes cotados está o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que ganhou apoio do presidente do PSD, Gilberto Kassab. “Se ele for candidato, a centro-direita não lança nenhum outro candidato. (Ronaldo) Caiado não sai, Ratinho (Jr.) não sai, (Romeu) Zema não sai, Tereza Cristina não sai”, afirmou Kassab durante evento no mesmo dia.
Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado, também compareceram à cerimônia. Enquanto o Republicanos optou por não aderir à federação, Motta fez um aceno de parceria. Já Alcolumbre defendeu a diplomacia política: “O caminho do equilíbrio, da ponderação, do diálogo, do entendimento, é o que faz um país do tamanho do Brasil seguir em frente.”
A distribuição do controle da federação nos estados também tem gerado conflitos. Até agora, há consenso sobre a liderança em 18 das 27 unidades da federação, sendo nove presididas por cada partido. A regra que prioriza governadores e o número de deputados federais como critérios foi adotada, favorecendo lideranças locais como Alcolumbre (Amapá), Caiado (Goiás), ACM Neto (Bahia), Lira (Alagoas) e Ciro Nogueira (Piauí).
No entanto, há resistências significativas. O deputado Mendonça Filho (União-PE) não aceita que o PP comande o diretório de seu estado. Na Bahia, deputados do PP governista resistem a serem liderados pelo União, opositor ao governo petista local. No Amazonas, o deputado Pauderney Avelino (União) vive um impasse com o governador Wilson Lima (União), o que pode comprometer a estabilidade do bloco.
Essas divergências alimentam o temor de deserções durante a próxima janela partidária. Além disso, a federação precisa resolver disputas sobre candidaturas estaduais em 2026. Em ao menos 14 estados, a indefinição persiste. Um caso emblemático ocorre no Paraná, onde o senador Sergio Moro (União) lidera as pesquisas para o governo, mas enfrenta a oposição do PP, aliado do atual governador Ratinho Júnior (PSD).
Além dos desafios internos, a nova sigla deverá administrar um fundo partidário bilionário, estimado em R$ 954 milhões, um dos maiores do país — um trunfo importante na corrida eleitoral de 2026.
A formação da federação União-PP consolida um novo polo de poder no Congresso, ao mesmo tempo em que fragiliza a articulação do Palácio do Planalto. Com um discurso cada vez mais distante do governo, o grupo coloca Lula diante de um desafio: manter o apoio institucional enquanto assiste ao avanço de uma oposição organizada e com musculatura eleitoral.
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