Ainda faltam dois anos para as eleições, mas começou uma disputa nos bastidores para emplacar o número dois da chapa de Bolsonaro, que tentará a reeleição. Uma das cotadas é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina
Enquanto vê a aprovação do governo atingir índices recordes desde que assumiu o Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro já pensa na melhor estratégia para seguir no poder em 2022, quando, certamente, enfrentará candidatos mais fortes daqueles que concorreram contra ele dois anos atrás. Nessa articulação, um dos pontos-chave será a escolha do vice. Uma das possibilidades é de que o atual, o general Hamilton Mourão, deixe o posto para dar lugar à ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
“Hoje, preferimos não levantar essa hipótese para não provocar qualquer tipo de desentendimento no governo federal. Mas, no momento aprazado, eu vou fazer essa solicitação ao general Mourão. Gostaria de contar com ele concorrendo ao governo estadual, ou mesmo sendo candidato ao Senado. Além de ele contribuir com força política para o Rio Grande do Sul, não tenho dúvidas de que teria uma força eleitoral muito grande. O general Mourão é muito respeitado entre os gaúchos”, diz Marco Elias Pinheiro, presidente no Rio Grande do Sul do PRTB, partido de Mourão.
O termômetro de 2022, no entanto, é que vai definir os passos de Bolsonaro. O eleitorado fiel do presidente é, majoritariamente, conservador. Ciente disso, o presidente pode recorrer à base ideológica para escolher alguém que seja um contraponto ao seu comportamento mais suave, sobretudo para manter mobilizados os seus apoiadores mais radicais. Nesse cenário, ganha força o nome da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que é contra o aborto e a ideologia de gênero. Há a chance também de que o vice seja ligado ao segmento evangélico.
Análise
Cientista político e especialista em relações governamentais pelo Ibmec, André Rosa acredita que Bolsonaro queira trocar Mourão porque o vice tem galgado uma posição política forte no governo. “Mourão não vem de cargo e o posto de vice é uma oportunidade de emplacar outros tipos de candidatura, é uma janela de oportunidades. O papel do vice é mais discreto, mas Mourão tem ambições políticas. As próprias declarações que ele dá acenam para a opinião pública, diferente de outros vices. Como a opinião pública gostou, provavelmente Bolsonaro deve cortar as asas dele para tirar os holofotes de cima”, opina.
De todo modo, ele ressalta que a decisão dependerá mais do jogo dos adversários de Bolsonaro, que vai querer um vice de peso, principalmente para evitar candidaturas competitivas da oposição. “O presidente escolherá o vice tentando anular os movimentos de outros setores. Rodrigo Maia, por exemplo, já defendeu que o DEM tenha candidato próprio ou apoie um outro nome, como Luiz Henrique Mandetta. Falou, ainda, na possibilidade de apoiar Ciro. Pode ser que a escolha passe pela movimentação dos partidos de centro”, analisa.
Segundo a advogada Vera Chemim, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), também é provável que Bolsonaro escolha para a vaga um nome que tenha uma boa relação com partidos de centro-esquerda. “Do mesmo modo, o presidente continuará agradando os partidos políticos que compõem o Centrão e, como Mourão deverá mirar outras ambições políticas, provavelmente escolherá como vice alguém que pertença ao DEM e ao mesmo tempo tenha livre trânsito entre os partidos de centro-esquerda como o PSDB e do próprio Centrão.”
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