Enquanto lutam pela progressão dos professores, quem luta pelos alunos e a educação de qualidade?

Publicado em   19/mar/2011
por  Caio Hostilio

Nos últimos anos, a partir do fim da ditadura Militar, os sindicados dos professores (por todo o Brasil) passaram a se preocupar apenas com o resgate da progressão salarial do professor, isso com os Estatutos do Magistério. Mas foram poucos, como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e outros, que buscaram resgatar a educação de qualidade e, principalmente, a formação cívica e intelectual do corpo discente.

Hoje, 2011, vinte seis anos depois, a coisa não mudou absolutamente nada. Os professores continuam brigando por melhores salários, porém continuam dando aulas expositivas e não dialogadas; elaborando provas objetivas (respostas deles – coisa usada até hoje nos vestibulares e concursos públicos); não sabendo que linha pedagógica deve adotar; desconhecem a heterogeneidade existente em sala de aula, por isso não sabem como fazer para que todos os alunos assimilem suas explicações sabe-se lá em que método didático; não aceita o questionamento crítico etc. Ou seja, os professores atuais ainda estão sob a tendência da linha pedagógica tecnicista, buscando apenas sua progressão salarial, mesmo sabendo que não há ensino/aprendizagem.

Por outro lado, os governos que vieram depois da ditadura Militar não conseguiram introduzir uma formula que acabasse com esse método pedagógico maléfico introduzido pelos militares, que tinham a intenção de transformar os professores e os alunos em criaturas teleguiadas – saber obedecer. Os militares sabiam que o tecnicismo – método criado pelo Exercito Americano – seria viável para transformar a educação crítica em educação da obediência. Tai o resultado!!!

Vejam que as leis que vieram depois da desgraceira da Lei 5692/71 se restringiram e se restringem apenas nas garantias da educação, na esfera de governo responsável por cada etapa educacional e, principalmente, como se deve gastar o dinheiro da educação (coisa do neoliberalismo) – LDB 9394/96. Cadê os princípios educacionais, a linha pedagógica a ser adotada?

Escuta-se falar muito em formação continuada do corpo docente, mas o que se ver são semanas pedagógicas que não trazem nada de ensinamento aos professores, que por sua vez, não mostram interesse nenhum. Por isso, escuta-se muito: “Eu brinco de ensinar e vocês brincam em aprender”. Será possível que os professores ainda não observaram que os péssimos salários estão relacionados exatamente ao péssimo ensino oferecido por eles? Seria conveniente que os professores abrissem os olhos para a realidade, que não é mais um desejo dos militares, mas sim dos neoliberais (observe a lei 9394/96 de FHC), que trabalham apenas com 1/3 da população e que o resto que se exploda ou consiga ingressar nesse percentual!!! Para o militarismo a classe docente tinha que regredir intelectualmente. No neoliberalismo, a classe docente não faz parte desse 1/3 e aproveitaram para manter a doutrina dos militares, no sentido inverso, pois só merece ganhar bem, quem produz bem.      

Na verdade, o governo Federal, através do Ministério da Educação, e os governos estaduais e municipais, através de suas Secretarias de Educação, devem mudar esse cenário, haja vista que as escolas necessitam passar por profundas transformações em suas práticas e culturas para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Daí a importância de se lutar por uma educação de qualidade: pais, alunos, professores, toda comunidade envolvida devem ter como objetivo essa luta na difícil e complexa tarefa de aperfeiçoamento de todo o trabalho escolar. Inserir o educando no contexto sócio-cultural é essencial para constituí-lo enquanto sujeito de identidade, sabendo críticar e questionar.

Em dias atuais é necessário transformar a Escola burocrática existente, resgatando a autonomia e a cidadania escolar. Quando se fala em autonomia, ainda há uma resistência onde limita o verdadeiro sentido ideal da escola, projetada para a liberdade e autonomia, essa centralização imposta ainda pela Lei 5692/71, dificulta o andamento, a organização do trabalho pedagógico, sendo apenas utópico ou demagogia.

Para se ter cidadãos atuantes em sociedade, com uma preparação melhor para a vida, é necessário que as escolas promovam a autonomia.

Este é o papel da escola, cuja finalidade é o professor aprender a ensinar e o aluno aprender a aprender em níveis crescentes. Infelizmente, isso nem sempre acontece na realidade das escolas. Partindo desse pressuposto, percebe-se a urgência em mudar paradigmas para construir uma escola pública universal, que respeite as diferenças, a cultura enfim a diversidade e é claro que garanta um padrão de qualidade.

A educação deve se pautar sempre no questionamento crítico no alunado, pois estará formando seres humanos emancipados, sujeitos transdormadores de seu tempo. Com certeza veremos um processo de educação e formação, cujo diálogo é imprescindível à medida que proporciona uma aprendizagem ativa e presente na prática do debate, do questionamento e da crítica.

Sei que não será fácil para os governos federal, estaduais e municipais transformarem a educação da noite para o dia, isso precisa de tempo, mas que deve começar agora mesmo.

Para se ter uma idéia, depois que a Justiça decretou a ilagalidade da greve, o Sinproesemma manifestou interesse em voltar com as negociações, sobre a progressão dos professores, mas sobre a educação de qualidade… Fica apenas no proselitismo político.

  Publicado em: Governo

5 comentários para Enquanto lutam pela progressão dos professores, quem luta pelos alunos e a educação de qualidade?

  1. ALBERTO disse:

    EXCELENTE REFLEXÃO MEU CARO,
    CONCORDO COM QUASE TUDO QUE AFIRMASTES SOBRE A QUERELA DOS PROFESSORES E GOVERNO.
    PORÉM, QUERO LEMBRÁ-LO QUE A CLASSE DE PROFESSORES HOJE MAIS DO QUE NUNCA TEM INVESTIDO EM FORMAÇÃO.
    VALE RESSALTAR QUE A PRINCÍPIO FOI MAIS POR UMA CERTA IMPOSIÇÃO GOVERNAMENTAL, JÁ QUE O PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO ESTABELECEU QUE OS PROFESSORES TERIAM 10 ANOS PARA SE FORMAR A NÍVEL SUPERIOR.
    FORAM TAMBÉM APRESENTADAS PROPOSTAS DE INCENTIVOS FINANCEIROS PARA OS MESTRES COM ESSA FORMAÇÃO, TANTO A NÍVEL DE GRADUAÇÃO COMO DAS PÓS – GRADUAÇÕES.
    ENTÃO, DESDE ENTÃO OS PROFESSORES TEM INVESTIDO EM SUA PRÓPRIA FORMAÇÃO VISANDO A CONQUISTA DE UMA VIDA MAIS DIGNA PRA SI E SUA FAMÍLIA.
    MUITOS FORAM PARA OS PRO-CAD DA VIDA, MAS MUITOS ENFRENTARAM OS VESTIBULARES E HOJE SÃO GRADUADOS, E, UM GRANDE NÚMERO PÓS-GRADUADO. COM ESPECIALIZAÇÕES, MESTRADOS E ATÉ DOUTORADOS.
    POR ISSO, APESAR DE CONCORDAR COM VOCÊ, CREIO QUE OS PROFESSORES ESTÃO APTOS A PROMOVER MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS NA EDUCAÇÃO PÚBLICA.
    A MEU VER O QUE FALTA É UM SÉRIO TRABALHO POR PARTE DAS SECRETARIAS DE EDUCAÇÃO, NO SENTIDO DE DELINEAR E APROFUNDAR AS TÉCNICAS OU VERTENTES PEDAGÓGICAS QUE FACILITEM O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM, LEVANDO EM CONTA O MOMENTO ATUAL DE NOSSA SOCIEDADE QUE INEGÁVELMENTE MUDOU E POR EXTENSÃO O ALUNADO TAMBÉM.
    A QUESTÃO DAS TAIS PROGRESSÕES POR VOCÊ CITADAS, FORAM INVESTIMENTOS REALIZADOS PELOS PROFESSORES. MUITOS DELES COM GRANDE SACRIFÍCIO PAGARAM ESPECIALIZAÇÕES. FORAM PRA OUTROS ESTADOS ESTUDAR NOS CURSOS DE MESTRADOS E OUTROS, PORQUE ACREDITARAM QUE TAL SACRIFÍCIO APARECERIA EM SEUS CONTRA-CHEQUES. E OUTRA AS PROGRESSSÕES ESTÃO PREVISTAS EM LEI, NÃO É NENHUM FAVOR PARA COM O PROFESSOR.
    SE SÃO DEVIDOS TAIS BENEFÍCIOS, DEVERIAM SER HONRADOS, VOCÊ NÃO ACHA?
    QUAN TO AO MODELO DE EDUCAÇÃO AINDA VIVENCAIDO NA ESCOLA PÚBLICA, A MEU VER, REFLETE O ESTADO DE ABANDONO PRESENTE NA COISA PÚBLICA, EM PARTICULAR NA EDUCAÇÃO.
    ,

    • admin disse:

      A minha maior frustração é saber que a educação brasileira, principalmente a pública, não tem uma linha pedagógica que realmente resgate uma educação de qualidade, sem aulas expositivas e não dialogadas, com provas em que os alunos possam fazer suas críticas e questionamento e não assinalar a resposta do professor, voltar a qualificar o professor como ele merece, dando a ele condições didáticas que possam transformar a educação, principalmente com um ensino/aprendizagem coerente, buscando a historicidade de cada aluno, pois nem todos assimilam da mesma forma… São tantas coisas… Como educador desisto de continuar batendo no mesmo ponto. A culpa, na verdade, é de todos: governo, professores, educadores, alunos e a sociedade de modo geral.

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