Lugar de criança é na escola e não casada… 42,7 mil crianças e adolescentes no Brasil de até 14 anos estão casados

Publicado em   11/set/2011
por  Caio Hostilio

Estadão

Uma prática ilegal, mais relacionada a áreas rurais ou países distantes, persiste hoje até nos principais centros urbanos brasileiros. Um recorte inédito feito pelo Estado nos dados do Censo Demográfico de 2010 mostra que existem ao menos 42.785 crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos casados no Brasil. O número refere-se a uniões informais, já que os recenseadores não checam documentos.

Essas situações se concentram em grupos de baixa renda e alta vulnerabilidade, principalmente nos rincões do País ou na periferia de grandes centros urbanos. O caso de P., uma jovem de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, é um exemplo do último. Ela se mudou para a casa do parceiro quanto tinha 11 anos. Seu namorado, na época, tinha 27.

‘Eu disse para ele que já tinha 14 e começamos a namorar. Meu pai foi contra porque me achava muito nova, e brigamos feio. Depois da discussão, fugi de casa e fui morar com ele’, conta.

Lá, ela tinha mais liberdade e espaço. Na casa dos pais, eram sete crianças, entre filhos e primos que moravam juntos. Na do marido, uma casa modesta às margens da Represa Billings, eram só os dois. Nos anos seguintes, teve dois filhos e ficou um ano sem ir à escola. Aos 15, teve um sonho de que o pai iria morrer e ligou para fazer as pazes. ‘Foi a melhor coisa que fiz. Ele morreu um ano depois.’

Hoje, aos 18 anos, ela ainda está com o marido – um agricultor de 34 – e é uma mãe cuidadosa, que não larga dos filhos, mas sente falta de uma infância que deixou de existir. ‘Deixei de fazer muita coisa que adorava, tipo jogar bola. Tem oito anos que não piso em uma quadra. Se você me perguntar se é fácil, não, não é.’

Legalidade. Assim como o caso de P., a maior parte dos casamentos de crianças registrados no Censo são informais, já que o Código Civil autoriza uniões apenas entre maiores de 16 anos – abaixo dessa idade, só podem se casar com autorização judicial. O Código Penal, por outro lado, proíbe qualquer tipo de união com menores de 14 anos.

‘Isso constitui um crime chamado ‘estupro de vulnerável’, previsto no Código Penal e sujeito a detenção de oito a 15 anos’, diz Helen Sanches, presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP).

Segundo ela, o crime se refere diretamente às relações sexuais mantidas com crianças e adolescentes, algo implícito quando se falaem casamento. Helenconta que é cada vez mais comum encontrar famílias nos fóruns pedindo autorização para casar uma filha adolescente ou mesmo passar a guarda dela para o seu parceiro, sem saber da proibição legal. ‘Quando isso acontece e a menina tem menos de 14 anos, o promotor, além de não acatar o pedido, pode denunciar o rapaz por estupro de vulnerável, mesmo que a relação seja consentida ou que os pais concordem com ela’, explica.

Entretanto, são poucos os casos que chegam ao conhecimento do poder público. Além de critérios sociais e econômicos, fatores culturais também dificultam o combate a esse tipo de situação. Isso fica claro ao se observar os Estados que lideram o ranking de casamentos com menores de 14 anos: ou são locais de baixa renda per capita, como Alagoas ou Maranhão, ou têm grande concentração indígena, como Acre e Roraima. Na outra ponta estão as regiões mais ricas e urbanizadas, como Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal.

  Publicado em: Governo

2 comentários para Lugar de criança é na escola e não casada… 42,7 mil crianças e adolescentes no Brasil de até 14 anos estão casados

  1. ANA PAULA SALES disse:

    OLHA S´…EM VEZ DE SE PREOCUPAR COM MELHORAS A POPULAÇÃO SEU SENADOR-MOR INVENTA, E COMO INVENTA…
    O senador José Sarney, do PMDB do Amapá, quer mudar o nome do Aeroporto de Congonhas: passaria a chamar-se “aeroporto de Congonhas – senador Romeu Tuma”.
    Pergunta-se: exceto Sarney, alguém quer mudar o nome do aeroporto? Se o nome do aeroporto for mudado, alguém o chamará pelo nome novo?
    O senador Sarney, que manda no Maranhão e no Amapá, não tem serviço por lá? Poderia trocar o nome de todas as instituições públicas chamadas ‘Sarney’. (Da coluna do jornalista Carlos Brickmann)

    • Caio Hostilio disse:

      Ora bolas!!! Ele está no uso de suas atribuições… apresentar um projeto é direito seu e se for aprovado. Deixa teu ódio de lado, pois Sarney tem muitos serviços prestados a São Paulo, quando foi presidente da república, basta você buscar melhores informações e ver o que foi feito pelos paulistas…

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