Linha de Pensamento…

Publicado em   01/abr/2012
por  Caio Hostilio

Após receber esse email abaixo, não poderia deixar de publicar esse artigo, pois já me expressei tanto sobre isso…

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João Batista Lago

Na última sexta-feira (30/03), o senador paranaense Roberto Requião (PMDB) fez um discurso dos mais contundentes e comoventes que já tive a oportunidade de assistir. Nele [discurso] RR mostrou-se “desencantado”, e mesmo indignado, com os últimos atos e fatos da Política brasileira, que ocorrem no Congresso Nacional, em Brasília,
porque os partidos brasileiros, supostamente de “esquerda”, afastaram-se de suas histórias e ideias ao adotarem os programas produzidos pela “direita”.

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Roberto Requião “desencantado” com a Política

De João Batista do Lago(*)

Roberto Requião

Na última sexta-feira (30/03), o senador paranaense Roberto Requião (PMDB) fez um discurso dos mais contundentes e comoventes que já tive a oportunidade de assistir. Nele [discurso] RR mostrou-se “desencantado”, e mesmo indignado, com os últimos atos e fatos da Política brasileira, que ocorrem no Congresso Nacional, em Brasília, porque os partidos brasileiros, supostamente de “esquerda”, afastaram-se de suas histórias e ideias ao adotarem os programas produzidos pela “direita”.

Antes, contudo, de entrar no mérito da retórica de RR, penso ser de fundamental importância termos bem claros os conceitos dos vocábulos desencantado, esquerda e direita, utilizados em seu discurso, pelo senador paranaense. Estes termos, sobretudo os dois últimos, nos tempos atuais, assim como no espaço que se lho é específico – o Congresso Nacional -, sofrem de uma tipologia de descrédito, seja público; seja privado.

Desencantamento

Em verdade, o axioma desencantado (ou desencantamento, ou ainda desencanto) utilizado por RR, vem na trilha da expressão “Desencantamento do Mundo” cunhada por Max Weber. Este utilizara-se da expressão, para indicar o processo de intelectualização e racionalização do mundo, próprio da modernidade. Processo acompanhado pela renúncia aos aspectos mágico-religiosos e metafísico-sagrados da vida e que se equipara à redução do existente a “objeto” cientificamente compreensível e tecnicamente manipulável: “Já não é preciso recorrer à magia para dominar ou para agradar os espíritos, como faz o selvagem, para o qual existem semelhantes poderes.

Isso é suprido pela razão e pelos meios técnicos” (La scienza come professione, 1919, em Il lavorointellettuale come profissione, trad. it., Einaudi, Turim, 1966, p. 20). Tal racionalização, que se identifica com “a consciência ou a fé de que basta apenas querer para poder” (ibid.), é feita de uma mentalidade imbuída da eficiência capitalista, que, privilegiando a dimensão instrumental do agir, identifica na indústria, na administração burocrática e na ciência as suas vigas mestras. Mas desse modo o homem ocidental, o homem-sujeito, acaba por se fechar numa “gaiola de aço” de resultados duvidosos:

“Ninguém sabe ainda quem, no futuro, viverá nessa gaiola e, se ao final desse enorme desenvolvimento surgirão novos profetas ou renascerão os antigos pensamentos e ideais ou, caso não aconteça nenhuma coisa nem outra, se haverá alguma espécie de empedernimento na mecanização…” (L’etica protestante e lo spirito del capitalismo, 1905, trad. it. em “Sociologia delle religione”, Utet, Turim, 1976, p.332). De qualquer modo, todos aqueles que, incapazes de viver num mundo “sem Deus e sem profetas”, preferirem voltar para os braços das antigas igrejas, deverão preparar-se para um inevitável “sacrifício do intelecto” (La scienza come professione, cit., p. 40).

A noção de Desencantamento (ou “desencanto”) do mundo é uma das mais recorrentes da linguagem filosófica hodierna e costuma funcionar como código da modernidade e das suas tendências profundas (cf. S.Givone, Disincanto del mondo e pensiero tragico, 1988) – In Abbagnano, Nicola, 1901-1990.

Direita e Esquerda

Nos dias atuais, principalmente depois da queda do Muro de Berlim (1989/1990), os vocábulos esquerda e direita foram gradualmente sendo desconstruídos para, assim, fortalecer a ideia e o pensamento do Capitalismo. E um dos momentos cruciais que trataram dessa desconstrução fora, exatamente, o aparecimento do artigo O fim da história (1989) e, posteriormente O fim da história e o último homem (1992), ambos de autoria do norte-americano Francis Fukuyama. Em verdade o autor resgatara, de certa maneira, essa teoria, lá do século XIX, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel. Mas, este, sugerira o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudanças, que aconteceria no momento em que a humanidade atingisse o equilíbrio, representado, de acordo com ele, pela ascensão do liberalismo e da igualdade jurídica. Por sua vez, Fukuyama desenvolvera uma abordagem na qual salientara a ideia de que o capitalismo e a democracia burguesa constituiriam o coroamento da história da humanidade. Assim, e para os seus olhos, após a destruição do facismo e do socialismo, a humanidade, à época, teria atingido o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes. Desse modo, o autor concluira que a democracia liberal ocidental firmara-se – com a queda do Muro de Berlim – como a solução final do governo humano, significando, pois, o fim da história.

O discurso de Roberto Requião

O senador RR é, aos meus olhos, um político dos mais aguerridos e, possivelmente, hoje, aquele a quem poder-se-ia denominar de esquerdista puro sangue da Política do Brasil. Quem o conhece – como eu o conheço aqui do Paraná, mesmo sem nunca ter trocado, sequer, um “bom dia” com o mesmo – sabe do conjunto postural que ele assumira desde os tempos mais remotos em que passara a se ter como sujeito-político. Por essas bandas de cá, RR é tido e havido a partir de vários olhares: se por um lado é amado; por outro é odiado ferrenhamente. É um homem que não foge ao embate político porque tudo nele é Política. Sua biografia político-partidária comprova o que aqui digo. Poderia mesmo, aqui e agora, desfilar seu histórico de “brigas” protagonizadas por ele, mas este não é o meu propósito, posto que, o que interessa mesmo, é analisar, ainda que minimamente, a sua retórica.

O desencanto, portanto de RR, neste seu discurso da última sexta-feira, revela muito mais que a simples indignação de um político de esquerda brasileiro. Em verdade, desvela o atual nível da política-partidária nacional, ou seja, tira o véu da hipocrisia, da ignomínia, da sordidez, da incompetência e da ineficiência de uma camarilha de políticos que se instalara no planalto central – como de resto em toda a nação – para usurpar o direito político do povo brasileiro.

O discurso de RR, no entanto, transcende à especificidade da retórica por ele fixada. Aos meus olhos, remete-nos ao significado e significante da política-em-si: à tudo o que se refere à cidade (Estado-nação) e, consequentemente o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social.

Ao esgrimir a sua fala, Requião deixa transparecer sua indignação objetiva e subjetiva ao tratar da postura que assumem os partidos políticos, e os políticos, do Brasil. É neste ponto que concordo plenamente com o político paranaense. Aos meus olhos, no Brasil, não temos “partidos políticos”. Quando muito temos associações de caráter nefasto; ou no mínimo, “facções políticas” que representam nada mais, nada menos que os interesses dos políticos fisiológicos que se formaram a partir do fim da Ditadura Militar de 64, e que, a partir de 1989, adotaram o fim da história, como regra, orientados pela ideologia do Conseno de Washington, para tripudiar sobre o direito consuetudinário-político da Nação e do seu povo.

Paradoxalmente, partidos políticos e políticos brasileiros, que insistem em fundamentar que a história acabou, ou seja, que esquerda ou direita, bem assim a ideologia são coisas do passado, afirmam e reafirmam suas posturas ideológicas de (e da) direita. E pior: de uma direita que se arroga o direito de alcançar qualquer vantagem ou seus efeitos desejados, porque entende, em essência, que é nela, e só nela [direita], que reside todo o poder político ou todo o poder sobre todos os homens.

O desencantamento de Roberto Requião é, também, o meu desencantamento!

Mas não só nosso: há um desencantamento latente na diaspórica política nacional, na nação e no seu povo. Estamos inevitavelmente todos – todos mesmo! -, inclusive os do lado de lá, ocultos ou encobertos por essa direita ou por essa nova esquerda praxistas e pragmatistas; orientadas pela ideologia do “deus mercado” ou pela ideolgia do “deus financeiro”, ferramentas geradas no ventre do Consenso de Washington.

É tão forte a onda de execração de posturas ideológicas que chegamos mesmo a ter medo ou vergonha de dizermos que ideologicamente seríamos de esquerda ou de direita.

Muito mais teria a dizer, mas penso que assistir ao discurso do senador Roberto Requião é mais que palavras minhas, posto que, ele fala tão claramente que quaisquer análises poderiam abstrair o núcleo da sua retórica.

Mas antes de finalizar este artigo gostaria de inferir mais uma indignação: RR requião fez um discurso para menos de cinco parlamentares que se encontravam, no momento, no plenário do Senado.

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(*) João Batista do Lago é editor chefe do Portal Aqui Brasil http://www.portalaquibrasil-host.com

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  Publicado em: Governo

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