Investigação: A paciência… A impaciência… As prerrogativas…

Publicado em   09/maio/2012
por  Caio Hostilio

A polícia judiciária, investigativa ou repressiva possui, historicamente, a vocação e o ofício de investigar criminalmente. Outras instituições podem investigar: Ministério Público, os tribunais de justiça e o Poder Legislativo. O Ministério Público, como titular da ação penal, possui prerrogativas de investigador criminal; os tribunais de Justiça podem investigar quando se trata de crimes praticados por seus componentes e o Poder Legislativo através das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) também praticam a investigação.

Contudo, é inegável que tais instituições esbarram em limites para seus procedimentos investigatórios, limites estes ligados à prática da investigação em si. Além de interrogatórios e de uma pesquisa documental e cartorária e, talvez, da facilidade que certas instituições possui de solicitar interceptação telefônica, a investigação não evolui muito, pois não é praticada por investigadores de polícia. Estes profissionais são habilitados a desenvolverem as atividades investigatórias que incluem atividade de campo, tais como a campana, o reconhecimento e a identificação dos locais em que os fatos ocorreram, a dinâmica entre circunstâncias, motivações e autorias dos delitos.

Apenas para contextualizar tais fatos, Silva (2006) num artigo sobre a condução de investigações específicas por membros do Supremo Tribunal Federal ponderou:

A investigação criminal pré-processual exige um dinamismo e informalismo para os quais nossas cortes não estão preparadas. Com efeito, além das medidas tomadas em gabinetes, a investigação criminal exige agentes preparados para sair nas ruas, entrevistar pessoas, colher informações nos mais diversos bancos de dados, realizar vigilância e filmagens, atos estes que, muitas vezes, não são registrados nos autos e cuja realização não pode simplesmente ser determinada ao órgão policial através de cotas ou despachos do Juiz, por serem realizadas, às vezes, de forma imediata após a constatação de sua necessidade.

Apesar do inconformismo de alguns membros de outras instituições, que afirmam que a Polícia Civil é ineficiente quanto ao esclarecimento de crimes, parece que a falta de maior eficácia no esclarecimento de crimes está muito mais associada a fatores conjunturais que uma contestação à capacidade e à prática da investigação.

Constitucionalmente a apuração de infrações penais, exceto os crimes militares [49] e as de competência da Polícia Federal [50], é atribuição das Polícias Civis [51]. Não se confunde a apuração de infrações penais com a função de polícia judiciária, ainda que uma dependa da outra; a primeira é atividade de investigação e inteligência policial, enquanto a outra é a formalização de indícios de autoria e materialidade delitiva em procedimentos pré-processuais (inquéritos policiais).

Elucidar um crime não vai ser com a mera interceptação telefônica ou com a simples pesquisa documental: um crime que exige um tratamento mais apurado, interdisciplinar, no qual o brilho da inteligência, do exercício da lógica, da persistência do trabalho de campo se interagem para -primeiramente, entendê-lo -e, posteriormente, desvendá-lo. É atividade para quem foi treinado neste mister. É atividade para o investigador de polícia, que tem como princípio básico a paciência e não a impaciência pelo resultado como se fosse um vendedor que precisa cumprir metas…

O mundo mudou nas últimas décadas e o crime também. Além do crime cotidiano, que faz parte do dia-a-dia do cidadão, tais como furtos e roubos, novas formas cruéis de criminalidade foram se desenvolvendo. Estas novas formas não possuem as mesmas características dos crimes até então conhecidos, pois envolvem uma atividade organizada por grupos que agem -muitas vezes -em vários países e fazem circular o dinheiro das atividades ilícitas no sistema financeiro internacional.

A própria ONU já vem debatendo sobre esse assunto, quando diz que o crime está mais bem organizado no mundo que o Aparelho de Segurança.

Ficar em salas com ar condicionado ouvindo fitas – ou o que é pior, mandando alguém ouvir e transcrevê-las -e depois tentar identificar conversas dúbias como se fossem grandes provas criminais, interpretando conversas pontuais, parece não ser a melhor prática investigatória. Profissionais especializados em investigação podem -certamente -conduzir melhor tal empreitada, buscando elementos sólidos que promovam a efetiva prisão e condenação dos envolvidos.

Por outro lado, existe outro problema da criminalidade globalizada quem vem tirando o sono dos governos: o tráfico de armas. As fronteiras terrestres brasileiras não são bem guardadas e a costa marítima brasileira é muito extensa e vulnerável.

O certo é que o investigador de polícia tem sido desvalorizado nas últimas décadas, por problemas variados. Denúncias de corrupção, violência e certo desvirtuamento de suas funções básicas, acabaram por transmitir uma idéia errônea da função para a sociedade.

Aquele investigador cujo principal instrumento era as faculdades mentais, o exercício da indução e da dedução, parece ter sido esquecido. Talvez a dinâmica dos novos tempos já não permita aquele trabalho metódico, sistemático, que permitia desvendar cada passo de um crime.

De qualquer modo, considero que a Policia ainda dispõe de grandes investigadores, com o pensamento lógico, com habilidades interpessoais e disposição interdisciplinar para conciliar conhecimentos teóricos e práticos de diversas áreas, além de uma certa flexibilidade no teatro de operações.

A sociedade brasileira e mundial deve esperar uma quantidade cada vez maior e mais variada de crimes complexos que não são resolvidos com simples tomadas de decisão… Os grandes centros, principalmente aqueles com mais 1 milhão de habitantes,  precisarão de grandes investimentos que facilitem o trabalho desses investigadores… Para isto algumas providências devem ser pensadas!!!

Pautado num trabalho de Herbert Gonçalves

  Publicado em: Governo

4 comentários para Investigação: A paciência… A impaciência… As prerrogativas…

  1. Antonio Lima disse:

    “Aquele investigador cujo principal instrumento era as faculdades mentais, o exercício da indução e da dedução, parece ter sido esquecido. Talvez a dinâmica dos novos tempos já não permita aquele trabalho metódico, sistemático, que permitia desvendar cada passo de um crime.”
    Professor, os governos nunca se preocuparam em valorizar cérebros, estão sempre investindo em equipamentos, viaturas, armas de grosso calibre e não investem um centavo no elemento que é indispensável para fazer toda essa parafernalha funcionar decentemente, que é o ser humano.
    O resultado de todo esse pouco caso é esse estado de caos que se encontra as nossa forças de segurança, que é incapaz de elucidar crimes sem nenhuma complexidade.
    Bem que a Governadora devia ler esse seu Texto, quem sabe ela passaria a priorizar, no seu governo, a valorização dos cérebros existentes, que se oferecidas as condições e o estímulo adequado, certamente melhoraria a imagem da segurança oferecida aos cidadãos pelo Estado.

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